segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Estava eu... De luto.

Não visto preto, minha dor é irrelevante
Sequer arranha a superfície
Deuma dor negra constante

Projéteis velozes encerram a vida
Encerrados em projeto macabro
De ver o pobre negro encarcerado
Por não encontrar "tão fácil" saída

E o índio outra ora exaltado
Que na poesia vive solto
Hoje é torturado e morto
Na sua mãe terra enclausurado

Em um cada vez menos Estado
Um amplo estado de catarse
Cidadão contra cidadão
Apontando seus culpados

Estou de luto...
Estou de luto?

Luto!

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Estava eu... tentando recomeçar.

Muito utilizei das palavras escritas para expressar minhas dores e prazeres de estar consciente de minhas faculdades (ou achar que estava). Não sei se ainda gozo desse dom/habilidade/poder e se apenas por preguiça de me expressar mais seguidamente tenho deixado de lado essa veia artística ou poética.

O fato é que me faz falta esse método e por vezes me frustro a ler meus antigos escritos. Parte por achar que eles não fazem justiça a minha capacidade intelectual, como se apenas arranhasse a superfície de minhas ideais. Parte por não encontrar em mim sequer forças ou motivos para dar ainda vazão a esse recurso, que hora foi tão útil e prazeroso.

O que há de errado comigo?

A)Talvez a expressão verbal tenha ganho força nesses últimos anos, por conta do amadurecimento.

B)Meu novo trabalho consome minhas energias e tempo de tal forma que jamais consiga ócio e vontade de escrever (teoria que reforça meu atual desprazer de sair de casa).

C)Tenho me expressado de outras formas e dado vazão a atividades que nem sonhava em minha tardia adolescência.

D)Ler menos também tem me deixado por muitas vezes frustrado, e não conversar com pessoas que compartilham leitura também.

De certa forma, as pessoas têm abandonado as longas leituras. Temos nos comunicado de forma rápida e superficial nos últimos tempos e isso me assusta com velocidade supersônica. O pior é que me coloco nessa rotina também, de me informar por vezes apenas com a manchete. Quando foi que tomei gosto por não ouvir as pessoas? Quando em minha existência me dei por conta que não valia apena conversar sinceramente com amigos e colegas, conhecidos e parentes?

Meu universo interior, cada vez mais repetitivo, morre aos poucos em cada notícia que me desagrada, em cada manchete de cunho comercial e sangrento, a cada reforço de que o mundo não é um lugar construtivo e saudável.

A cinco ou dez anos atrás, eu não tinha consciência de certos julgamentos que fazia. Não era consciente da forma como tratava as pessoas e de que maneira isso afetava minhas relações.

A cinco anos ou menos não havia começado a desconstruir (e nem conhecia o sentido dessa palavra) o humano machista, homofóbico, irracional que ainda habita em mim. Eu realmente tenho que lutar contra meus próprios preconceitos, muitas vezes, para simplesmente não trair minhas convicções racionais. É uma luta do consciente, novo e ainda inseguro, com o inconsciente bombardeado por anos com ideias de outros que me precederam.

E, apesar de haver um grande caminho nesse sentido de descontrução dos estereótipos, além de dificuldade de percorre-lo... por vezes tenho medo. Se com as poucas coisas que aprendi nesse meio tempo já me sinto um estrangeiro... em pouco tempo me sentirei muito sozinho. Nas rodas de amigos, no trabalho, na rua... sinto medo de expor o que penso. Somadas à diferença de pensamento e preconceito, há agora a intolerância e violência. O que antes era difícil de discutir ficou quase impossível sem uma agressão.

segunda-feira, 9 de março de 2015

...perguntando se você me ama.

Me pegou  de surpresa a pergunta ébria e por isso despretensiosa. Fazia tempo que eu não pensava nisso e respondi como sempre respondo nessas situações.  – Porque sim, hora essa!
Pensando friamente, com tempo que o banho permite, a análise das segundas com o terapeuta...  e até as longas viagens de carro em silêncio... a resposta retornou à memória como algo à tempo esquecido.
Chegando a casa da recente sogra, ainda viva e tenaz naquela época, ela me pediu para esperar um pouco na cozinha. Naquela ocasião a Lulu não estava com o pai e como ainda era um namoro recente, não era ocasião de apresentar a filha ao namorado.
- vou fazer ela dormir e já volto.
Aguardando na cozinha, a comida chinesa esfriava nas caixinhas enquanto eu ouvia uma suave melodia no quarto ao lado... o quarto que sobrou do casamento com tudo dentro, até mesmo a prole. A melodia, invadida por uma voz de sereia, era contínua e mantinha uma ternura... um embalo inconfundível de canção de ninar.
A mesma voz, por vezes sensual ao telefone, outras debochada na risada estridente e escandalosa. Uma outra face da mesma pessoa, escondida das noites de festa e os lábios de paixão, agora acariciava meus ouvidos com uma música que embalava sonhos de uma criança que eu não conhecia ainda.

Poucos anos depois, a mesma melodia e a mesma voz embalavam o sono da minha filha... e por consequência o meu sono também.

Esse é apenas um dos motivos esquecidos do meu amor. E eu, porque você me ama?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

... sentindo ira!

Gritos e berros de ódio proferidos contra quem se ama.

Situação inimaginável pra quem está de fora e não entende o que se passa por dentro. Por dentro do casamento e por dentro de cada um, dentro dos caminhos e medos individuais.

Se não ser correspondido no amor é uma dor difícil de explicar, projetemos então a dor da traição imaginada? A dor de ser trocado (na imaginação aconteceu) por outra pessoa, que não precisa ter rosto pra ser horrível, nem existir para que o ódio brote.

Como uma tosse de uma doença macabra as palavras não cessam até satisfeito o locutor, lutador de um ringue de um lado, saco de pancadas de outro. Cada palavra penetra na pele e rasga um pouco do carinho que antes cobria a pele de certezas.

E da turbulência pode nascer morte ou engano, fração de amor ou inimizade. Amor inteiro ou pela metade? Prova de amor verdadeiro ou posse suposta, o ciúme permeia o amor como câncer enraizado.


E a cerveja já não é mais quimioterapia.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

...tentando equacionar.

Tentava lembrar do momento em que deixou ele entrar, sentada no ônibus a caminho da aula. Não conseguia ver claramente seu rosto em sua mente, o que era sinal de que ele tinha ido fundo demais no seu coração.

Fechava os olhos, respirava fundo. Tentava privar um dos sentidos para que a ilusão de tê-lo ao lado fosse mais forte. Sentir o seu toque, seu beijo... Perdeu o ponto de descida.

Na aula, atrasada... Tentava entender o que professor jurava conhecer. Matemática é sempre ilusão.

O caos é perder quem se ama. E o amor... É uma equação insolúvel.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

...Realizando a Expulsão

Não consigo tirar de mim a raiva contida e por vezes ela explode sem controle contra qualquer coisa. Na tentativa de evitar catástrofes... acabo por implodir!

A escrita é uma ferramenta valiosa para muita cousa, como livros inanimados que compreendem as mais variadas verdades do universo. Sem a finalidade de explicar tudo... às vezes o tudo se explica em duas ou três frases para muitos sem sentido.

O problema.... É que não adianta gritar com meus textos. São gritos silenciosos demais para demonstrar e retirar toda a raiva.


Coloco no carro "faint" do Linkin Park e grito junto com Chester no refrão... "Right now... Hear me out now"... E às lágrimas brotam dos meus olhos, onde há não cabem mais.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Compartilhando um sonho

Mãe 


Quando a adolescência chega é difícil se encontrar dentro de si. O exterior nunca agrada de maneira completa na fase adulta, o que dizer então da adolescência, aonde a crítica vem de dentro. Ela queria ser cantora. Fazia backing vocal para a banda da escola. Tinha ídolos e se espelhava neles com parca esperança de um dia ter coragem de encarar um público maior do que três ou quatro amigos. Tempo passou e a banda desmanchou. Não há compromisso com o tempo. Hoje aqui e amanhã não mais, as pessoas se distanciam por conseqüência do acaso. Frustrada com o destino resolveu que cantar não seria um futuro. A autocrítica fez o resto e sua voz calou, jurou ela, para todo o sempre. 



Filha 



 Aprende sempre tudo como deve ser. Adora quando lhe ensinam uma coisa nova, com cuidado que só uma mãe pode ter. No seu quarto as bonecas, os bichos de pelúcia, o seres imaginários e sua família ouvem o seu canto alegre de criança. Quer ser como a mãe. Quer poder encantar alguém com sua voz como a mãe faz. Sonha por diversas vezes com sereias embaladas com seu canto, saltitando nas ondas em um mar muito azul. Espera ansiosa pela noite. 



De pijamas e ursinho, deitada na cama espera pelo “boa noite” da mãe e dá sua cartada: 



 - Canta pra mim dormir mãe? 



Ao som de uma voz macia como nuvens, ela dorme tranquila sem saber que realiza mais a mãe do que seu próprio desejo.