Muito utilizei das palavras escritas para expressar minhas dores e prazeres de estar consciente de minhas faculdades (ou achar que estava). Não sei se ainda gozo desse dom/habilidade/poder e se apenas por preguiça de me expressar mais seguidamente tenho deixado de lado essa veia artística ou poética.
O fato é que me faz falta esse método e por vezes me frustro a ler meus antigos escritos. Parte por achar que eles não fazem justiça a minha capacidade intelectual, como se apenas arranhasse a superfície de minhas ideais. Parte por não encontrar em mim sequer forças ou motivos para dar ainda vazão a esse recurso, que hora foi tão útil e prazeroso.
O que há de errado comigo?
A)Talvez a expressão verbal tenha ganho força nesses últimos anos, por conta do amadurecimento.
B)Meu novo trabalho consome minhas energias e tempo de tal forma que jamais consiga ócio e vontade de escrever (teoria que reforça meu atual desprazer de sair de casa).
C)Tenho me expressado de outras formas e dado vazão a atividades que nem sonhava em minha tardia adolescência.
D)Ler menos também tem me deixado por muitas vezes frustrado, e não conversar com pessoas que compartilham leitura também.
De certa forma, as pessoas têm abandonado as longas leituras. Temos nos comunicado de forma rápida e superficial nos últimos tempos e isso me assusta com velocidade supersônica. O pior é que me coloco nessa rotina também, de me informar por vezes apenas com a manchete. Quando foi que tomei gosto por não ouvir as pessoas? Quando em minha existência me dei por conta que não valia apena conversar sinceramente com amigos e colegas, conhecidos e parentes?
Meu universo interior, cada vez mais repetitivo, morre aos poucos em cada notícia que me desagrada, em cada manchete de cunho comercial e sangrento, a cada reforço de que o mundo não é um lugar construtivo e saudável.
A cinco ou dez anos atrás, eu não tinha consciência de certos julgamentos que fazia. Não era consciente da forma como tratava as pessoas e de que maneira isso afetava minhas relações.
A cinco anos ou menos não havia começado a desconstruir (e nem conhecia o sentido dessa palavra) o humano machista, homofóbico, irracional que ainda habita em mim. Eu realmente tenho que lutar contra meus próprios preconceitos, muitas vezes, para simplesmente não trair minhas convicções racionais. É uma luta do consciente, novo e ainda inseguro, com o inconsciente bombardeado por anos com ideias de outros que me precederam.
E, apesar de haver um grande caminho nesse sentido de descontrução dos estereótipos, além de dificuldade de percorre-lo... por vezes tenho medo. Se com as poucas coisas que aprendi nesse meio tempo já me sinto um estrangeiro... em pouco tempo me sentirei muito sozinho. Nas rodas de amigos, no trabalho, na rua... sinto medo de expor o que penso. Somadas à diferença de pensamento e preconceito, há agora a intolerância e violência. O que antes era difícil de discutir ficou quase impossível sem uma agressão.