Me pegou de surpresa
a pergunta ébria e por isso despretensiosa. Fazia tempo que eu não pensava nisso
e respondi como sempre respondo nessas situações. – Porque sim, hora essa!
Pensando friamente, com tempo que o banho permite, a análise
das segundas com o terapeuta... e até as
longas viagens de carro em silêncio... a resposta retornou à memória como algo
à tempo esquecido.
Chegando a casa da recente sogra, ainda viva e tenaz naquela
época, ela me pediu para esperar um pouco na cozinha. Naquela ocasião a Lulu
não estava com o pai e como ainda era um namoro recente, não era ocasião de
apresentar a filha ao namorado.
- vou fazer ela dormir e já volto.
Aguardando na cozinha, a comida chinesa esfriava nas
caixinhas enquanto eu ouvia uma suave melodia no quarto ao lado... o quarto que
sobrou do casamento com tudo dentro, até mesmo a prole. A melodia, invadida por
uma voz de sereia, era contínua e mantinha uma ternura... um embalo
inconfundível de canção de ninar.
A mesma voz, por vezes sensual
ao telefone, outras debochada na risada estridente e escandalosa. Uma outra
face da mesma pessoa, escondida das noites de festa e os lábios de paixão,
agora acariciava meus ouvidos com uma música que embalava sonhos de uma criança
que eu não conhecia ainda.
Poucos anos depois, a mesma melodia e a mesma voz embalavam
o sono da minha filha... e por consequência o meu sono também.
Esse é apenas um dos motivos esquecidos do meu amor. E eu,
porque você me ama?
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