Fiquei o caminho inteiro a contemplar
Sem palavras, tormei-me toda ouvidos
Na verdade virei ouvidos e suspiros
Mas naquela ânsia de toda juventude
Não acostumei com aquela serenidade
Deveria. Antes de ter perdido aquela carona
Bem no meio da estrada.
Paguei ingresso pra viajar num barco furado
Sem saber nadar, joguei-me ao mar.
E como um cachorro perdido na enchente
Nadei. Ah, como nadei contra aquela correnteza.
Em solo firme cheguei, onde não chovia há um mês,
Mas não desisti de ter flores no jardim
Plantei. Mas naquela terra dura e seca
Jamais conseguiria criar raiz.
Olhei pra cima e mesmo sem ser alada, voei
Entre nuvens de algodão-doce e gelo
A toda velocidade, invadi a selva de pedra
Matando um leão por dia a dentadas, cresci.
Como a juventude, aquela ânsia, saciei.
Se antes, eu era toda ouvidos, hoje estou meio surda
O bocejo anda querendo habitar a casa do suspiro.
E hoje, só me falta a serenidade que encontrei naquela carona que perdi.
Pra ler ouvindo: Vermelho - Marcelo Camelo
Um comentário:
Sensacional.
Vale muita a pena ir na pasta do gmail onde guardo os e-mails referentes aos posts.
A correria às vezes adia a leitura de uma novo registro literário de vocês, mas mais cedo ou mais tarde, abro um destes textos ainda não lidos.
E vale muito a pena :)
"Se antes, eu era toda ouvidos, hoje estou meio surda
O bocejo anda querendo habitar a casa do suspiro."
Show!
Muito bom, Arlise!
bjo!
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