Tinha dez anos quando as dores começaram. Sentia uma neblina em seus olhos diante daquele mundo de estranhezas. Refugiava-se apoiando as mãos nos olhos fechados, era quando enxergava os labirintos e mais nada, assim ficava por horas.
Sua mãe a levou ao médico e disseram que a menina precisava de óculos, chamaram sua neblina de astigmatismo (gostara de palavras novas e esquisitas, inclusive daquela). O tempo passou, e ela sentiu que a neblina não passava – pior, ela tomava conta de seu corpo. Suas pernas suas mãos seu peito sua garganta – um desespero que explodia em noites de lágrimas insones.
A menina cresceu mais um pouco e levava consigo as dores e a neblina. Certo dia, no colégio, caiu-lhe nas mãos uma água viva que fez queimar seu corpo por dentro. Era o sol de Clarice.
2 comentários:
Que lindo, Ana!!
Fui obrigada a ler um trecho de Água Viva agora.
Bah! Muito legal! :)
As "imagens" do texto são ótimas!
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