segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Estava eu... revirando o passado

Apesar de ser basicamente organizado, não encontro algumas coisas que guardo. Estou muito preocupado com o comprovante da declaração do imposto de renda, que não está em lugar algum. Outra coisa que me preocupa é um certificado de um curso dado nas dependências do meu atual emprego, a menos de 1 ano, que simplesmente sumiu dos meus arquivos.

Revirei as gavetas de documentos esta tarde, em busca de tais pertences, e obviamente não encontrei nada. Odeio não encontrar algo que tenho certeza ter guardado. Entretanto, revirar estas gavetas me fez encontrar outras coisas.

Dentro de uma pasta recente, juntamente com certidões de nascimento minha e da Faby, estava nossa certidão de casamento. Lá, intacta na gaveta, ela adorna a nossa vida de certezas. É como a certificação de que um dia, pelo menos naquele dia, estávamos tão certos do amor que sentíamos a ponto de afirmá-lo civilmente. Tal documento foi devidamente manuseado e relembrado por nós dois.

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Entre diversos materiais de eletrônicos, que guardo no intuito de utilizar para projetos futuros, encontrei duas fitas cassete muito velhas. Lembrava vagamente do que podia se tratar e separei tais fitas na arrumação. Depois de ter certeza de que o que eu estava procurando não estar ali, decidi ouvir as fitas.

O primeiro desafio foi encontrar um toca-fitas. Ta bom, ta bom, eu sou velho mesmo, eu sei. Com a tecnologia digital avançando tão rapidamente que não se vende mais toca-fitas em aparelhos de som, o jeito foi revirar os meus velhos alfarrábios na garagem. O meu velho Micro-sistem Philips na garagem me auxiliou mais uma vez, talvez a última. Ele tem tantos mal-contatos que desisti de conserta-lo um dia. Pelo menos serviu para alguma coisa ainda.

A primeira fita era um antigo presente de um amigo. Um presente tão velho que eu não entendo como ainda funcione. Diversos sons que marcaram a nossa juventude recente em uma única fita, gravada no antigo som da casa dos pais dele. Lembrei algumas músicas e depois parei. Decidi que algumas coisas do passado devem ficar no passado. A Faby me ensinou isso com sua eloqüência e seu amor.

A segunda fita foi para o deck e por instantes eu torci para que fosse o que eu pensava ser. Ao apertar o play, uma janela se abriu em nossa cozinha, nos transportando para o pequeno quarto das crianças, na antiga “casa amarela” 5 anos no passado. A fita começa com pequenas canções infantis, canções de ninar ou simplesmente canções inventadas e cantadas pela Lulu, quando tinha apenas 5 aninhos. Além do registro da voz, que no início confundimos com a da Rafinha atual, temos o registro de alguns erros infantis de linguagem que até pouco tempo lembrávamos. Um registro especial para mim, que operava o som na época por segurança, é de que um dia, sem a pressão do pai biológico, ela me chamou de pai. Isso me trouxe lágrimas aos olhos.

Logo depois nossas vozes, minha e da Faby ao fundo, rindo e comentando sobre as canções. Minha voz aparece derrepente: “Essa é a voz da Rafaela aos 7 meses”. Logo depois de um estalo começa uma risada de bebê, inconfundível. Ela segue por quase 5 minutos e então outro estalo, sem registro da época. “Fala bebê”...

Minha voz e meu jeito de papai coruja me remete a sensação indescritível daquela época. Um pai jovem e sem recursos, lutando para dar o mínimo para sua família. Ela balbucia muitas coisas nessa fita, feita ao longo de quase um ano no antigo gravador do quarto. Fala “Papa” e “Mama” nitidamente. Chama nosso antigo cachorro e faz diversas manhas. O registro do “Exe?” quando queria saber se estava com a coisa certa na mão.

Papai e mamãe coruja embalam novamente a fita e dizem um para o outro: “Vamos guardar para sempre, talvez digitalizar”. Guardamos a fita mais a mão agora, para poder lembrar mais fácil. Se bem que acho que estas memórias nunca vão sair da minha mente.