quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Compartilhando um sonho

Mãe 


Quando a adolescência chega é difícil se encontrar dentro de si. O exterior nunca agrada de maneira completa na fase adulta, o que dizer então da adolescência, aonde a crítica vem de dentro. Ela queria ser cantora. Fazia backing vocal para a banda da escola. Tinha ídolos e se espelhava neles com parca esperança de um dia ter coragem de encarar um público maior do que três ou quatro amigos. Tempo passou e a banda desmanchou. Não há compromisso com o tempo. Hoje aqui e amanhã não mais, as pessoas se distanciam por conseqüência do acaso. Frustrada com o destino resolveu que cantar não seria um futuro. A autocrítica fez o resto e sua voz calou, jurou ela, para todo o sempre. 



Filha 



 Aprende sempre tudo como deve ser. Adora quando lhe ensinam uma coisa nova, com cuidado que só uma mãe pode ter. No seu quarto as bonecas, os bichos de pelúcia, o seres imaginários e sua família ouvem o seu canto alegre de criança. Quer ser como a mãe. Quer poder encantar alguém com sua voz como a mãe faz. Sonha por diversas vezes com sereias embaladas com seu canto, saltitando nas ondas em um mar muito azul. Espera ansiosa pela noite. 



De pijamas e ursinho, deitada na cama espera pelo “boa noite” da mãe e dá sua cartada: 



 - Canta pra mim dormir mãe? 



Ao som de uma voz macia como nuvens, ela dorme tranquila sem saber que realiza mais a mãe do que seu próprio desejo.

domingo, 19 de agosto de 2012

...perguntando quem se importa.

Ser um adulto é basicamente fácil. Tentar não morrer antes dos 21 anos é uma tarefa pouco desafiadora.

Tornar-se adulto, isso sim, poucos o fazem antes dos 40 anos. E eu percebi isso através da bebida. Até então, beber era só encher a cara e esquecer o depois. Entornar o caldo era permitido, e se vomitar ou molhar as calças era parte do processo. No outro dia, se eu não lembro é porque não aconteceu! 

Hoje, mesmo depois de várias cervejas, a realidade está sempre ali à espreita. É só desviar o olhar e perceber que ela está bem perto, me controlando sem que eu perceba. Nunca mais consegui beber tranqüilo! 

Afastar a realidade depois dos 30 já não é simples. Porque afastá-la? Sento à sua companhia e sirvo um belo copo suado de cerveja. Me abrirei com a realidade todo fim de semana de folga.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Estava eu...continuando uma história.


Trechos anteriores>

A "mijada" - figura de linguagem chula demais para (perdôem-me a falta de modéstia) tão eloquente argumentação - respingou em todos. Houve os que já pensavam o mesmo de antemão; os que não haviam pensado a respeito e agora pendiam para a ideia há pouco defendida; e alguns que não concordavam de fato com a ideia de se lançar um livro, mas que tiveram suas convicções balançadas pela "bem fundamentada divagação". Ficaram impactados a ponto de demorarem alguns segundos a mais do que seria normal para que, enfim, abandonassem momentaneamente a reflexão do assunto à mesa e percebessem que eu estava estatelado no chão e precisava de uma mão para levantar.

Em outros tempos (ou com outras atmosferas anímicas), haveria até alguma jocosa e amigavelmente debochada risada ante o acontecido, mas as ideias expostas ainda estavam tomando a todos com alguma seriedade atraente, das que trazem frio à barriga e incerteza, das que suscitam vaidade, insegurança, vislumbre - tudo misturado - e que resultam em introspecção momentânea inabalável, mesmo em meio à multidão.

Fui ao banheiro com pouca ideia do que poderia ser feito com aquela calça molhada de cerveja - e que poderia ironicamente fornecer aos menos lúdicos um véu de literalidade à figura de linguagem "mijada". Restaram à mesa meus amigos a refletir, silentes, a despeito da batata gordurenta que esfriava em guardanapos de tom cinzento.

Alguns minutos depois todos voltavam a falar de amenidades da vida, cada vez mais atribulada para todos ali pelo passar dos anos. Surgiram uma e outra piada de tom despretensiosamente anarquista, com o espírito "no-future" estampado. Daí para alguma reflexão sobre o sentido da existência foi um pulo. Surgiu à mesa, como que esperando um parecer sobre originalidade por partes dos demais, a seguinte metáfora:

- Estamos andando em uma gigantesca esteira ergométrica. E a ideia mais sensata (entre as existentes), parece ser a de andar para frente. A esteira está ajustada, digamos, para a velocidade de 12 km/h. A pessoa nesta esteira consegue, mesmo que se esforce muito, mesmo que faça tudo certo, andar/correr a 10 km/h. Poderá se esmerar o quanto puder, construir o que for, se aprimorar, planejar... mas um dia, irremediavelmente, mais cedo ou mais tarde, será vencido pela esteira, não conseguindo acompanhá-la. E cairá.

Outro se manifestou, enveredando o sentido da conversa para o metafísico de forma provocativa.

- E quando se cai da esteira, se cai para o céu ou para o inferno?

Uma terceira pessoa toma a palavra, mudando mais uma vez o foco da conversa:

- Sobre Inferno, Céu... Sei lá, eu acho que o Diabo é o irmão mais velho - e de bom coração - de Deus. Pensem comigo: como Deus é "de menor", seu irmão benevolente assume todas as burradas e maldades que o caçula causa ou permite, sendo este consumido em sua eterna e "triônica" vaidade e autossuficiência. O Diabo, por sua vez, é condescendente com o irmão rebelde e incorrigível, pois o ama.

- Triônica?

- Sim, são três "onis": onipotência, onisciência e onipresença.

- Ah! hahahaha. Eu tinha isso antes de começar a faculdade.

- Acho que Deus permite tragédias para que os infelizes fiquem constrangidos em se queixar de suas vidas.

- Tu e tuas heresias! rs. Tu não és ateu?

- Agnóstico!

- OK, gente, prefiro falar sobre o quanto é bom ouvir "Searching" do Joe Satriani. Conhecem?

- Essa eu não conheço.

- Um orgasmo de 10 minutos!

- Hum... Eu conheço essa música. É boa e tudo... Mas tem muitas partes lentas e “desanimadas”, de modo que acho a analogia um tanto frágil.

- Já ouviu falar em Tantrismo?

- Rá!

Seguiram-se outros assuntos, piadas, divagações, trocadilhos infames, dentre os quais sobreviveram à ressaca do dia seguinte em minha memória as seguintes:

"A marcenaria do lado da minha casa entoa uma introdução eterna de "I Feel fine" dos Beatles."

"Viaduto é um pub pra pessoas 'diferentes'."

" 'O mecanismo da dor é imprescindível pois é um sinal do organismo de que há algo errado'. Ah, vai tomar no cu! Porquê não acende uma luzinha avisando? O sujeito com a mão decepada, já percebeu que a coisa é grave, e mesmo que trate terá que aguentar a dor um tempão!"

"Seria 'A Luz de Tieta' uma música com apoio de Caetano ao grupo terrorista ETA de forma subliminar? Ouçam o refrão..."

"Sou a favor de um Campeonato Mundial de gangues e grupelhos. KKK, Comando Vermelho, Ira, PCC, Hamas, Nazifascistas, skins, todos presos a confrontos eliminatórios, uns matando os outros, num reality show, para deleite dos espectadores."

"Quem não deve, teme sim!"

"Tenho medo do Abraão Winogron dizendo 'Venha!' "

"O que eu mais queria era dar um mosh na felicidade."

Da despedida dos amigos, na fria noite, lembro-me de ter acenado para todos com um maroto: "OK! Então comecem a selecionar seus textos pro livro!"

E entrei no ônibus iluminado, pensando se acordaria doente no outro dia por causa da calça molhada de cerveja, e que naquele inverno rigoroso secou a muito custo, ao longo do tempo em que desfilavam na mesa de plástico amarelo copos, pensamentos, azeitonas, infâmias, sanduíches, risadas e a noção de eternidade boa que a noite e a falta de obrigações no dia seguinte trazem.

Em casa, lembrei-me de uma pessoa que não comparecera ao bar. Era tarde: não iria ligar. Então mandei e-mail:

"oi, tudo bom? como tu tá? pq não foi?"

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Estava eu... furtando conversas.

Coversas Furtadas

— E o teu namorado? Tem pai?
— Não! Não é uma maravilha, menino?!

– Brigada.
– Brigado você.
– Brigada eu.

– Onde você está, que ainda não chegou?
– …
– Quê? Mas esse ônibus nem passa hoje!

– Moço, você tem algum salgado sem carne?
– Tem sim! pão-de-queijo, enrolado de queijo e enrolado de frango.

– Ah, foi super romântico! Precisava ver.
– No Caldeirão do Huck?
– Ahã! A guria era feia, mas o cara, modéstia à parte dele, era lindo!

Mais em http://trasel.com.br/conversas/

Bônus:
– E eu? Me diz, me diz! O que faço!? Tua vez de me aguentar!
– Eu investiria. Ou desopilaria com outro.
– Com o meu namorado?
– Não tem nenhum colega interessante?
(Gargalhadas de ambas)


sábado, 16 de junho de 2012

...navegando na memória.

Uma bicicleta vermelha e risadas espásmicas no decorrer do caminho. Lembro vivamente dessa cena da minha infância, na casa da minha tia Sirley. Minhas primas tinham um pátio invejável para brincar. Para os padrões de especulação imobiliária atual, seria como um sítio, que devia ter cerca de 20 metros de frente e com certeza uns 50 metros de comprimento. Era quase metade de uma quadra do bairro onde eu morava. Se não me falha a memória, o terreno ainda se alargava mais ao fundo. Tinha árvores frutíferas entre as duas casas principais, quase no meio do terreno. Pinheiros na frente e diversos arbustos com taturanas venenosas. Tínhamos medo, mas sempre procurávamos as assassinas taturanas verdes, durante as longas tardes livres de sol. A taquareira ao fundo fazia a divisa do terreno, e não me lembro o que tinha depois. Tinha um medo horrível daquele pedaço do pátio.

Uma interminável perspectiva da entrada de carros, com seus trilhos de concreto paralelos, iam da entrada do portão grande até a garagem quase 30 metros ao fundo. Eram estradas, ciclovias de energia inesgotável para pedalar tardes inteiras. Dentro da tal garagem, além do carro, meu tio tinha uma infinidade de ferramentas em prateleiras empoeiradas e cheias de aranhas. Adorava mexer naquele amontoado de mistério e engenharia, com direito a aula de zoologia pré-histórica.

Entre o fundo do pátio e a casa principal, havia balanços, escorregador, areia, gira-gira e gangorra. E como se não bastasse tudo isso, ainda havia toda a nossa imaginação para explorar. Uma infinidade de possibilidades, permitidas só para quem tem entre 7 e 12 anos, e um bocado de ócio para inventar. Ao final do dia, era difícil imaginar onde nos sujávamos tanto de graxa, barro, ferrugem e até bosta de vaca.

Não nos dávamos por conta de quão especial eram aqueles momentos. Vivi até hoje, nos meus 32 anos para perceber, que jamais voltaremos lá senão em nossas memórias. As pessoas que por lá nos acompanharam, as que ainda não faleceram, dirão que não lembram de tudo exatamente assim. Não com as cores que lembro. Não com a saudade que tenho. Nem com o juízo que faço. Naqueles dias, vivemos a plenitude da felicidade, sem sequer saber o que estávamos fazendo.

Para Verônica, Renata e Fernanda.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Estava eu...


Mas não mais.

(qq coisa >>>)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Estava eu... Tentando voltar à ativa.


Arrependido eu?

Nem sequer existe um deus pra me perdoar. Não aprendi a perdoar a mim mesmo para ter uma desculpa de vencer a preguiça. E ela sempre, desgraçada, nos meus calcanhares.

Acreditando ou não, por vezes me pego desacreditado da minha própria situação. Como posso ter chegado ao ponto de me adiar? Deixar para amanhã o EU que treme por falta de ar?

Vou até a caixa do correio e pego as contas, perplexas, à espera de serem pagas. Nem sequer atendo às minhas expectativas, e tenho que atender às expectativas de meus credores.

Na caixa do correio, eu sou a carta não lida. Eu sou o poema esquecido de um amor já ultrapassado. Eu sou o piegas atropelado pela pressa urgente do telefone e da tv à cabo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

...sendo cobrada

Vou avisar vocês: esta preguiça de buscar a felicidade por conta própria vai acabar com o amor.

Vejo minhas amigas namorando, casando, separando e casando de novo. O engraçado é que quase nunca as vejo entre um relacionamento ou outro, pois quando ligo para convidar pra sair, não podem, pois o “amor” vai visitá-las hoje. Não consigo entender se essa eterna busca de alguém que as faça felizes é carência, medo da solidão ou apenas preguiça de tentar ser feliz sozinhas.

Na matemática seria: pessoa (-1), alguém pra completar (+1). Pelos meus cálculos, a realização afetiva estaria em (0), ou seja: “ter alguém” foi substituído pelo “alguém que me complete”. A tentativa de buscar a felicidade por conta própria é inversamente proporcional à seletividade: acaba-se aceitando qualquer (+1) por pressa.

E como doar amor quando não se tem o próprio? Como fazer alguém feliz, quando não se é? Não se pode nem dividir. É esperar eternamente pelo outro. É viver dependente e ser feliz com zero. E quando o zero não é o bastante, troca. E cada vez mais rápido.

Ou eu quero demais ou está todo mundo se contentando com pouco. Devo entender nada de amor, de relacionamento ou de matemática.

domingo, 8 de abril de 2012

Estava eu... na terceira pessoa

Tinha dez anos quando as dores começaram. Sentia uma neblina em seus olhos diante daquele mundo de estranhezas. Refugiava-se apoiando as mãos nos olhos fechados, era quando enxergava os labirintos e mais nada, assim ficava por horas.

Sua mãe a levou ao médico e disseram que a menina precisava de óculos, chamaram sua neblina de astigmatismo (gostara de palavras novas e esquisitas, inclusive daquela). O tempo passou, e ela sentiu que a neblina não passava – pior, ela tomava conta de seu corpo. Suas pernas suas mãos seu peito sua garganta – um desespero que explodia em noites de lágrimas insones.

A menina cresceu mais um pouco e levava consigo as dores e a neblina. Certo dia, no colégio, caiu-lhe nas mãos uma água viva que fez queimar seu corpo por dentro. Era o sol de Clarice.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

...lendo a lenda

Então você gosta de arte?

Até gosto, mas não tenho dom! Minha última tentativa de entrar para o meio artístico foi quando desenhei uma árvore e rodei no exame psicotécnico da auto-escola. Acredite! Não fiz o risco do chão. Foi uma sorte eu não ter conseguido a habilitação: sofro de síncope reflexa.

O que é isso?

É a perda repentina da consciência, um desmaio, apagão, "tilte", o tico se desliga do teco por alguns minutos. Eu seria um grande risco no trânsito.

Mas vamos ao que interessa. O que eu devo fazer?

Primeira coisa: relaxa! Vamos tomar um café, andar pela casa, pelos quartos, pela varanda, pelo jardim... Depois você veste a roupa que se sente melhor, ou não veste nada. Com todo o respeito: eu prefiro assim. Acho mais natural. Como combinamos, tudo será do seu jeito.

Cores, sabores, filmes, trabalhos, tecnologias, tudo... desde que nasci, tudo foi do meu jeito. Sou imperativa demais. Por isso te contratei. Quero saber como sou vista por quem não me conhece, não por mais alguém que eu consiga manipular. [Silêncio] Vamos trabalhar, antes que eu fale alguma besteira e você já me ache divertida! Quer que eu tire a roupa mesmo? Se for para você não achar que eu sou o que eu visto, eu tiro!

Vou colocar uma música pra você relaxar! O que você prefere?

Vodca! Pra relaxar, vodca!

Falava de música! O que gosta de ouvir?

O que você quiser, hoje você que escolhe.

[E ao som do absoluto pop barroco, por parte dele e da vodca, sem gelo, por parte dela, se encontraram todo final de tarde, durante três semanas.

Só um acordo foi feito: a pintura só seria vista depois que a tinta estivesse seca.

Seis meses e 25 dias depois da última dose de vodca sem gelo bebida naquela sala, no horário marcado, a campainha do velho casarão não tocou.

Nem tocaria.

O estilo “futurista” do pintor nunca foi tão literal]



Observações:

1- Paul Steck não era futurista.

2-Ophelia não gostava de vodca.



sábado, 3 de março de 2012

Barcos não amam

- Por que atracar no porto quando as águas estão tranquilas? O porto pode ter sido segura e confortável morada nos dias de mar turbulento, quando não se podia ir a muito longe e ainda havia o que se cumprir em terra. Quando, porém, as águas finalmente se oferecem plácidas e francas, torna-se muito mais atraente ao barco conhecer novos mares, explorar estuários e navegar livre, sem âncoras ou correntes que lhe prendam, mesmo que o próprio barco, por conveniência, outrora, tenha tomado tais decisões quando as águas eram revoltas e as tarefas no porto eram numerosas.


- Fernando, creio que não tenha compreendido exatamente o que essa pequena explanação marítima tenha a ver com o tema proposta na nossa aula de hoje. Que relação terá ela com "amor"? O que você quis dizer?


- Que barcos não amam, professor.


Segundos de reflexão silenciosa na sala.


- Confesso que não alcanço de pronto sua ideia nebulosa, Fernando, mas antes de lhe pedir que nos explique melhor, me ocorre outra dúvida que há tempos guardo: por que "Fada Bailarina Psi"?


- É um anagrama, professor.


- Ah, é?! Mas de quê?


- Pesquisa, professor.


Fernando levanta e sai em silêncio arrogante, balbuciando em ares psicóticos que odiava advogados e funcionários da RBS, causando um indesejado e inconveniente mal-estar entre os presentes na sala, que nada tinham a ver com os motivos de seu atordoamento explícito.


Minutos depois Fernando recebeu um telefonema feminino, e percebeu o quanto era estúpido e paranoico em suas elucubrações.

sábado, 14 de janeiro de 2012

e as leis da física.

Acordou, banhou-se, colocou um vestido florido para aquela sexta feira de primavera, preparou um café forte, um pão francês com Nutella e preocupou-se com as calorias...

[abriu o jornal e se deparou com a manchete trágica envolvendo um antigo amor]

...escovou os dentes, pegou a bolsa, verificou se o celular estava com bateria suficiente pra aguentar o dia, que apesar de ser uma sexta feira, tinha previsão de ser intenso...

[atendeu ao primeiro telefonema do dia. “-Estou sabendo.”]

...entrou no carro, ligou o rádio e procurou uma estação que estivesse tocando uma música bem dançante. Cantou junto. Teve vontade dançar. Trocou de sintonia pra ouvir a previsão do tempo a fim de que chuva nenhuma estragasse a viagem do final de semana.

[No rádio, o locutor relata um acidente e o fim de uma vida tão jovem.]

Deu bom dia aos colegas, trabalhou, almoçou, trabalhou mais um pouquinho e voltou pra casa pra arrumar as malas, já que viajaria na manhã seguinte. Dormiu. Sonhou que estava fazendo compras em Paris... ahh, Paris!!!
Acordou, banhou-se, colocou um vestido florido para aquela sábado de primavera, preparou um café forte, um pão francês com Nutella e preocupou-se com as calorias, escovou os dentes, pegou as malas, abriu o porta-malas do carro e viu o jornal do dia anterior e percebeu...

[a inércia que a notícia tinha causado e chorou... chorou... soluçou... chorou...chorou mais ainda ao sentir que as lágrimas eram as mais egoístas já roladas em algum rosto. Descobrira que nunca tinha amado de verdade.]

... que a previsão do tempo estava certa: tinha sol. Entrou no carro, ligou o rádio e procurou uma estação que estivesse tocando uma música bem dançante. Cantou junto. Teve vontade dançar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Conquista

É final de casa cheia
E um menino imaturo
Corre, dribla e muito anseia
Com a conquista e um futuro.


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(originalmente em Concurso de Trovas EdiPUC 2011 - contagem de sílabas poéticas fail)