quinta-feira, 28 de abril de 2011

...com os olhos semicerrados


Na penumbra das ideias
Com a mente quase morta
E que surge um novo eu
De natureza cerne torta

Um bocejo é um escrito
E do devaneio pleno
Surge sempre o infinito
De palavras num terreno

Ao caminhar na relva
Deste mundo lactante
Encontro à mim na selva
Um ser impressionante

De fúria e atitude forte
Diferente do meu natural
Que só, conta com a sorte
Sem espinhos, água e sal.

Texto por Rafael Nunes: @Pywanunes

terça-feira, 12 de abril de 2011

...alimentando vagalumes


Em cada porto, recebia algo diferente na partida:
flores, livros, caneta, vinhos...

Tinha aquelas despedidas com bolo caseiro, chocolate e cobertor para a viagem

A bagagem era uma mala de 65kg e uma pequena mochila.
Todos os seus pertences conseguia levar nas costas.

Por isso ficava feliz quando as flores murchavam, terminava o livro,
a tinta da caneta acabava e se embriagava com os porres dos vinhos.

Os sessenta e poucos quilos da mala grande vinha recheado de outros presentes:

tinha sorrisos sortidos, tristezas divididas, paixões avassaladoras,
lágrimas de todos os tipos, abraços, músicas de todos os ritmos,
danças, braços dados, palavras, risos com dentes e sem, gargalhadas,
memórias, ensinamentos, cuidados, cumplicidade
e um vidro com vagalumes com o seguinte bilhete:

"para que jamais fique sozinha na escuridão. "


sexta-feira, 8 de abril de 2011

...lembrando do dia que peguei carona com um estranho.


Ele dirigiu cantando minhas canções preferidas

Fiquei o caminho inteiro a contemplar

Sem palavras, tormei-me toda ouvidos

Na verdade virei ouvidos e suspiros


Mas naquela ânsia de toda juventude

Não acostumei com aquela serenidade

Deveria. Antes de ter perdido aquela carona

Bem no meio da estrada.


Paguei ingresso pra viajar num barco furado

Sem saber nadar, joguei-me ao mar.

E como um cachorro perdido na enchente

Nadei. Ah, como nadei contra aquela correnteza.


Em solo firme cheguei, onde não chovia há um mês,

Mas não desisti de ter flores no jardim

Plantei. Mas naquela terra dura e seca

Jamais conseguiria criar raiz.


Olhei pra cima e mesmo sem ser alada, voei

Entre nuvens de algodão-doce e gelo

A toda velocidade, invadi a selva de pedra

Matando um leão por dia a dentadas, cresci.


Como a juventude, aquela ânsia, saciei.

Se antes, eu era toda ouvidos, hoje estou meio surda

O bocejo anda querendo habitar a casa do suspiro.

E hoje, só me falta a serenidade que encontrei naquela carona que perdi.



Pra ler ouvindo: Vermelho - Marcelo Camelo

Trago nesses pés o vento