sexta-feira, 8 de abril de 2011

...lembrando do dia que peguei carona com um estranho.


Ele dirigiu cantando minhas canções preferidas

Fiquei o caminho inteiro a contemplar

Sem palavras, tormei-me toda ouvidos

Na verdade virei ouvidos e suspiros


Mas naquela ânsia de toda juventude

Não acostumei com aquela serenidade

Deveria. Antes de ter perdido aquela carona

Bem no meio da estrada.


Paguei ingresso pra viajar num barco furado

Sem saber nadar, joguei-me ao mar.

E como um cachorro perdido na enchente

Nadei. Ah, como nadei contra aquela correnteza.


Em solo firme cheguei, onde não chovia há um mês,

Mas não desisti de ter flores no jardim

Plantei. Mas naquela terra dura e seca

Jamais conseguiria criar raiz.


Olhei pra cima e mesmo sem ser alada, voei

Entre nuvens de algodão-doce e gelo

A toda velocidade, invadi a selva de pedra

Matando um leão por dia a dentadas, cresci.


Como a juventude, aquela ânsia, saciei.

Se antes, eu era toda ouvidos, hoje estou meio surda

O bocejo anda querendo habitar a casa do suspiro.

E hoje, só me falta a serenidade que encontrei naquela carona que perdi.



Pra ler ouvindo: Vermelho - Marcelo Camelo

Trago nesses pés o vento



Um comentário:

Diego GF disse...

Sensacional.

Vale muita a pena ir na pasta do gmail onde guardo os e-mails referentes aos posts.

A correria às vezes adia a leitura de uma novo registro literário de vocês, mas mais cedo ou mais tarde, abro um destes textos ainda não lidos.

E vale muito a pena :)

"Se antes, eu era toda ouvidos, hoje estou meio surda

O bocejo anda querendo habitar a casa do suspiro."

Show!

Muito bom, Arlise!
bjo!