sábado, 3 de março de 2012

Barcos não amam

- Por que atracar no porto quando as águas estão tranquilas? O porto pode ter sido segura e confortável morada nos dias de mar turbulento, quando não se podia ir a muito longe e ainda havia o que se cumprir em terra. Quando, porém, as águas finalmente se oferecem plácidas e francas, torna-se muito mais atraente ao barco conhecer novos mares, explorar estuários e navegar livre, sem âncoras ou correntes que lhe prendam, mesmo que o próprio barco, por conveniência, outrora, tenha tomado tais decisões quando as águas eram revoltas e as tarefas no porto eram numerosas.


- Fernando, creio que não tenha compreendido exatamente o que essa pequena explanação marítima tenha a ver com o tema proposta na nossa aula de hoje. Que relação terá ela com "amor"? O que você quis dizer?


- Que barcos não amam, professor.


Segundos de reflexão silenciosa na sala.


- Confesso que não alcanço de pronto sua ideia nebulosa, Fernando, mas antes de lhe pedir que nos explique melhor, me ocorre outra dúvida que há tempos guardo: por que "Fada Bailarina Psi"?


- É um anagrama, professor.


- Ah, é?! Mas de quê?


- Pesquisa, professor.


Fernando levanta e sai em silêncio arrogante, balbuciando em ares psicóticos que odiava advogados e funcionários da RBS, causando um indesejado e inconveniente mal-estar entre os presentes na sala, que nada tinham a ver com os motivos de seu atordoamento explícito.


Minutos depois Fernando recebeu um telefonema feminino, e percebeu o quanto era estúpido e paranoico em suas elucubrações.