terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estava eu... troteando

A estrada fazia uma volta grande à direita, deixando curta a visão do tropeiro. Depois de uns 100 passos à frente a lua despontou novamente por sobre o arvoredo, clareando as pedras que jaziam solitárias e tristes com o frio intenso do minuano. Sem susto o cavalo troteava a passo largo, deixando para trás mais de légua e meia de chão até a porteira. Não tinha o costume de trotear à noite, mas Plínio Ramos não era homem de medo. Pelo contrário, sua adaga vivia se mostrando em noite de baile, principalmente ao desavisado que lhe pisasse na bota. Não tolerava sujeito descuidado.

Era muito quieta a noite, e se não fosse pelo vento nas copas das árvores, o silêncio reinaria sobre o galopar do zaino de Ramos. Foi numa lufada mais forte do vento que Plínio puxou as rédeas do cavalo. Ergueu mais alto o chapéu e parou pra escutar o vazio. Só a respiração do cavalo lhe subia aos ouvidos, mais nada. Meio desconfiado e agora mais atento tocou o cavalo. Outra lufada de vento, Plínio resolveu apear. Afastou-se do cavalo para obter maior quietude e ficou auscultando novamente o vazio. Podia ouvir sim, tinha certeza, um lamento distante, porém claro. Vinha de uma trilha fora da estrada.

Correu de volta ao cavalo e num salto cobriu o lombo do animal. Tocou o bicho com vontade e o zaino respondeu de imediato. Corriam como doidos e entraram mata adentro atrás do som misterioso. Ele ia ficando cada vez mais forte e mais claro. Era como se estivesse 50, 40, 25 metros à frente. Cada vez mais alto e mais forte. Num instante desapareceu. Ramos parou o cavalo e apeou novamente. Olhou a sua volta, a lua como lampião. Não enxergou nada.

- Tem alguém aí? – Arriscou. O silêncio imperava no bosque. Já bufando, Ramos voltou lentamente para trás. Sem se virar, passou a mão nas rédeas e saltou sobre o... Repentinamente gelou seu sangue. O zaino estava verde por todos os lados que ele enxergava, e sua crina não parecia pêlo, parecia... uma barbatana.

- Ala fresca... – Tentou pular do bicho e não houve mais como. O animal suspendeu o dono no ar, e se sumiu por entre as brumas do bosque.

Plínio Ramos nunca mais foi visto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Poeta Black Tie

Vivo me corrigindo nas letras
Escondo o erro com poesia
Me condeno todo dia na rima
Me liberto com burocracia

Se me pego a descrever o fato
Quero minha poesia viva quando morto
Tento tornar à rima no ato
Descrevendo reto o poeta torto