sábado, 22 de dezembro de 2007

Estava eu... na ponta da língua

a palavra
pensada
não dita
me afoga


- me sufoca então?



e ainda preciso viver...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Estava Eu... voando.

Era uma vez um passarinho que se recusava a aprender a voar.
Se era medo dos predadores, do desconhecido ou aversão ao que havia aprendido da vida das aves por observação não se tem muita certeza.
Dizer, por sua vez, de que se tratava apenas de apego exagerado ao quentinho do ninho seria explicação preguiçosa de quem nunca quis saber.

Tanto faz: não quis aprender; não aprendeu. E disso resultaram asas atrofiadas que ao passarinho não causavam mais do que raras tardes de tristeza conformada. Amparava-se, pois, na altura do ninho em relação ao chão, o que possibilitaria com apenas um passo a frente a liberdade de qualquer tormento mais duradouro.

Só que lá pelas tantas o passarinho conheceu uma fêmea que o transformou. Um lindo pássaro. Um pássaro verde. Enamoraram-se. E a fêmea revolucionou seu modo de enxergar a vida. Agora ele queria ser como qualquer pássaro: cantar; buscar comida; construir um ninho só para os dois. Enfim, viver, voar... Mas já não era mais possível. Agora era tarde demais. Como voltar no tempo e aceitar os antigos desafios recusados? Pensava e repens

TUMMMM!

A pedra arremessada acertou em cheio o passarinho, que despencou morto no chão junto com ninho, metáforas e eufemismos enfadonhos, para satisfação do homem com estilingue na mão esquerda, já que ele não tinha nada que ver com os problemas de um passarinho.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Estava eu... epitafiando

Morte aos pedaços

meio sorriso,
poucas lágrimas,
muita dor
- Uma facada no peito dói menos!
Não posso mais contar os números,
fraciono: 1/4
o infinito atrapalha.
Cada dia a mais
um a menos
não vejo o sol,
nem nada
no rádio alguém diz:

"volta pro esgoto baby,
e vê se alguém te quer"

terça-feira, 27 de novembro de 2007

estava eu... dando três de uma só vez

Teu All Star não combina comigo,
Meu sonho de estrada combina contigo,
Meu lenço de seda ao lado da sua manta suada combina
Minha mão à sua não estará na moda na próxima estação
Sua musica já combinou com a minha,
mas a minha boca ainda combina com a tua

**************************************

E a vida virou um jogo de xadrez
Sou as pretas. Começo o jogo
Não me agrada mais o rei
da rainha, eu devolvo a coroa

Seguindo meu coração,
meu cavalo anda em "(L)"

**************************************

É feliz, aos olhos dos leigos
Será feliz, aos olhos dos espertos

A moçoila dos sapatos coloridos
àquela, que a felicidade morbida tomou conta,

Chorou distante
aos olhos de todos

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Estava eu...procurando a poesia (pro Daniel)

Tem momentos na vida da gente que são poesia. É poesia que emociona, leva lágrimas aos olhos, faz cantar a alma. Era essa poesia que eu buscava para escrever neste espaço enquanto estava na loja da minha mãe, quando um menino mirradinho chega na porta.
- Tia, quer comprar alho?
- Não, querido, não tô precisando.
- Mas tia...eu não vendi nada hoje... pra me ajudar - diz ele, com os olhos marejados.
Um lampejo me traz pros meus alunos com todos os sonhos do mundo e imediatamente quis pescar o brilho dos seus olhos.
- Eu tenho algumas moedas aqui... Qual teu nome?
- Daniel.
- Eu me chamo Ana. Tu estuda, Daniel?
- Aham. No CAIC da Fátima.
- E que série tu tá?
- Na segunda. E tô com oito, né...
Eu alcanço as moedinhas na mão pequena do Daniel e escuto:
- Muito obrigada, Ana.
- Prazer te conhecer, Daniel.
- Tchau.
-Tchau, tudo de bom.
Ele se vai correndo, eu volto pro computador e correm lágrimas ao me lembrar dos olhos do Daniel. Eu deveria ter falado mais, feito mais, mas.... No fim da nossa conversa, ele deu um sorriso. Ou melhor, uma poesia. A poesia dum verso que diz "ser gente é movimentar sonhos de criança."

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Estava eu... tendo um (des)encontro

Eu me senti tão sozinho
No entremeio das minhas manias
Como se não dormisse ao teu lado
No meio dos últimos dias

Dias pra mim viraram noites
Ao contrário viraram teus dias
Quando acordo não sinto teu corpo
Quando dorme já não me aprecia

E assim nos feriados ou dias
Nas folgas eu te reencontro
Confesso, com alegria
Sem ti eu pareço um tonto

Com o telefone tapando
Como se faz com a peneira
Te ligo em dias de sol
Me ligas quando é lua cheia

Reparo em dias normais
Assim me sinto insano
Temo encontrar-te e jamais
Poder dizer que te amo

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Estava eu... curtindo um pé.

Tu preferiste assim: agora não te tenho entre meus braços.
Nem tampouco teus abraços, redentores de toda a futilidade mundana.
Dizer que aceito sua decisão seria desautorizar meu coração.
Mas te compreendo...
Sádicos sutis são os poetas, que transformam em arte e algum trocado a perda de um amor.
Trazem charme a uma falta que fora dos livros é seca e sufocante.
E agora me privas de teu cheiro todas as manhãs...
Mas lhe entendo.

Ou procuro entender.

Que falta!

Pois, meu eterno amor, quando vieres buscar as tuas coisas, não pronuncies palavra alguma, pois posso não suportar da saudade que sinto de teus lábios nos meus.

Pegue tudo: o que é teu; algo do que era nosso.

Mas, baby: aquelas fotos íntimas do fim de semana em Canasvieiras, tiradas com a nossa TekPix 35 prestações, eu não devolvo nem fodendo!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Estava ele...

Sente o corpo pesar
fita perdido o ladrilho quebrado no chão
sente a cabeça doer.
não é febre.
não é gripe.
que será?

Encara o espelho a meio palmo de distância
leva a testa ao vidro
sem perder de vista o reflexo dos olhos.
não se vê.
não lhe parece sequer familiar.
quem será?

Busca lembrar-se da velha frase:
já não lhe trás força
já não lhe dá fôlego.
não é desistência.
não é medo.
que será?

Não é a primeira vez.
Não será a última.
Que será dele?

Que será de nós?

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Estava eu... girando muito rápido

Sempre tenho um certo receio de levar as crianças na pracinha. Alguns brinquedos, e principalmente crianças, são muito perigosos. Mesmo assim, enfrento este obstáculo e levo as duas para um passeio pelas praças do bairro, deixando que fiquem com as outras crianças e que brinquem livremente, somente observando de longe.

Mesmo com um cara estranho sentado ao canto, com um sorriso costurado na cara e com os olhos cheios de uma felicidade difícil de explicar senão por meio artificial, eu me sento na sombra da praça.

Elas correm direto para o carrossel, onde muitas outras crianças brincam. Elas fecham os olhos, inclinam a cabeça, dando a impressão com seu sorriso de que estão adentrando em um mundo muito diferente. Ele gira, gira muito rápido, mais rápido que o mundo gira, mais rápido que o efeito que causa, distorcendo a sua percepção.

:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:o:

Sempre que minha mente se distorcia e eu sorria como um imbecil, procurava um canto na sombra pra curtir. Sempre havia uma sombra na praça, cheia de crianças e de brinquedos, onde eu podia esquecer da minha vida até o efeito passar. O final de tarde sempre se desenha no lado limiar da minha mente, antes mesmo do sol se por.

Pouco importava minha condição ou minha aparente falta de condição. As crianças, os gritos e os movimentos me distraiam a mente. Fechava os olhos e inclinava a cabeça, tentando recuperar algo que sentia ter perdido há muito tempo: Minha esperança.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Estava eu...na palidez do vento

Me infla
Me cola
Me acende a alma.










(sofre comigo esta noite?)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Estava eu...no rubor do vácuo

Me suga
Me anula
Me apaga a luz.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Estava eu... abrindo a velha caixa de sapatos... [2]

Baú do Manfri
(do tempo púbere em que eu era um poeteiro)


Torto, Tolo

Pareço torto, tolo apaixonado
Que diz amar sem nem saber se gosta
Pra me vingar da tua alegria
Fui, em caminho errado, achar resposta

Quase nem pensei
em você. Já faz quase uma semana
Pra tentar me livrar do que há anos
Me prende nesta falta "doce-insana"

Mas é só uma palavra
De qualquer um que fale o seu nome
Que aqui já não me encontro
E o caminho que eu seguia errado, some

Será que é pra sempre?
Será que essa novela não tem fim?
Vingança era mentira
E se é dor até faz bem pra mim

E se é o tal destino
Dizendo que pra longe eu não vou?
Tentei embarcar antes
Mas minha mente nunca acompanhou

Chateio meu amigos
Mas acredito ainda que é amor.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Estava eu... pollockiando

Vê este espaço em branco isolado aqui no canto...
Vai sendo engolido, perdendo sua pureza no amarelo... E as outras cores vão tomando conta do resto da tela...

O fundo é mesmo um céu azul bem chavão: celeste, claro, muitas nuvens bem delineadas, quase infantilmente pintadas. Mas as nuvens não são tão brancas. Misturo com um pingo de preto. Só um pingo é o bastante.

O que está em cima é o que importa: o vermelho cuspido, o azul escuro derramado direto da lata, o preto manchando todos os cantos... Quase todos. Pincéis? Não.

Ora, não me venha com suas idéias pré-concebidas de como as coisas deveriam ser... Isso pode ser um monte de borrões incompreensíveis pra você mas pra mim faz sentido.

É como eu faço.

Olhe essa outra tela. Sim: tinta preta em todos os cantos. Todos.
Como não faz sentido? Passe a mão por sobre a tela. São diferentes tipos de tinta, pois sinta, formando um relevo, um relevo do que está por trás disto, o que ficou encoberto, o que não importa mais, o que foi esquecido por algum momento e assim ficou.

É como eu sei fazer.

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terça-feira, 4 de setembro de 2007

Estava eu e o Epicuro trocando uma idéia...

Carpe diem.
O epicurismo de quatro séculos antes de Cristo me legou esta pérola: aproveite o dia, Seize the day, Carpe diem. Não penso que alguma coisa possa ser mais sábia do que isso - viver o instante-agora, de alma e corpo integralmente (o grego Epicuro de Samos não fazia esta distinção; alma e corpo eram uma coisa só).
Essa frase me vem em determinados momentos à mente. Vezes que não vivi totalmente alguma situação ou segundo de vida. Eu fecho a cara, fico puta e exclamo: ma che merrrrda! Vezes que fico sabendo da vida interrrompida de alguém, como o amigo que festeava comigo numa sexta e que fui velar numa segunda-feira. Vezes que alguém não consegue se desvencilhar de seus medos, de seus intrínsecos e absolutos achismos e acaba por deixar de dizer e fazer muita coisa.
Cada um de nós tem, no máximo dos máximos, 120 anos nesta Terra. Um sexto disso já me passou e u digo: tá valendo a pena. Cada dia me pauto diferente, me ressignifico, abro a janela e jogo uma prece boa ao céu. Não vivo cada dia como se fosse o meu último, vivo-o como parte fundamental na construção de um sentido global intitulado VIDA. Não vou deixar o melhor pro fim, vou massageá-lo com os dentes afiados.
LIBERDADE,AMIZADE E TEMPO PRA MEDITAR; já dizia o filósofo Epicuro.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Estava eu... fazendo as malas

“Chega!
Acabou!
Não quero mais saber dessa história.
Longe daqui começarei outra vida, vou conhecer novas pessoas.
Talvez até mude de nome: Patrícia, Aline, Samanta, Renata. Renata não, cansei de nomes com a letra "R". Colocar mais um "R" na minha vida é estar assinando meu atestado de óbito.”


Pegou poucas peças de roupas, estava disposta a mudar até o estilo de se vestir, não usaria All Star, não beberia uísque com Coca Cola e jurou aprender a tomar decisões sem ficar esperando pelas atitudes alheias.
No meio da bagunça da sua imensa cama, que seria trocada por um colchão de solteiro, achou uma navalha bem afiada, não exitou e tascou uma navalhada no cabelo, quinze minutos depois estava quase irreconhecível. Mas o sorriso ainda poderia ser reconhecido de longe – não importava a situação, ela sempre ria, e ria muito, principalmente quando estava nervosa.
Pegou um de seus maiores óculos para esconder os olhos, ainda inchados da noite passada, acendeu seu cigarro e pegou a estrada.

No rádio o último rock chorava:
“I've still got your face
Painted on my heart
Scrawled upon my soul
Etched upon my memory, baby”

Ao pegar o celular para jogá-lo janela afora, sentiu ele tremer na sua mão trêmula e fria.
Era ele:

“Tem certeza que tu vai ir embora?”

“Agora eu tenho”

Um telefone voou!
Ela tinha cansado de só ouvir perguntas. Ao ver a chamada já estava disposta a trocar de pista e correr para os braços dele. Mas ao invés de falar para ela voltar, fez a mesma pergunta de sempre.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Estava eu... ouvindo The Doors...

Ela dirigia a 130 Km/h pela longa estrada sinuosa. As árvores, negras como a noite, debruçavam-se sobre ela, fechando mais e mais seu horizonte já parco. À cada curva a revelação de um curto futuro e da próxima curva. Descia assim a montanha, com as rodas sobre a pele negra da imensa serpente, vagueando de acostamento a acostamento, deixando os rastros, marcas dos seus pneus sobre as escamas. Suas mãos molhadas pelo suor tornavam escorregadias as suas chances de guiar o seu destino, que à essa altura já não fazia mais tanta diferença. O ódio era o único sentimento que seu coração respirava agora, era portanto a esperança um mero capricho que ela não mais alimentava.

No rádio Jim Morrison exprime:
"Ride the snake...he's old, and his skin is cold "

Aquela imagem na sua cabeça, uma tormenta de cólera. Na sua cama, em seu quarto, os corpos nus de dois malditos amantes suavam é riam às suas custas. Reconheceu a blusa da amiga no chão, que ela mesma havia dado de presente no natal. Ele nem se dera o trabalho de tirar a aliança do dedo antes de por as mãos sujas sobre a pele dela. Era como uma brincadeira de mal gosto, como um horrível pesadelo de que não se acorda. Sua vontade era de mata-los, de feri-los e de rir sobre seu sangue. Ela era agora a fúria contida de mais de 30 anos.

Quase alcançando o final da serpente, próxima à auto-estrada, o “guard-rail” não suportou o peso do carro somado à imensa inércia contida em sua velocidade. O carro, ela e todo o seu ódio foram lançados por entre as árvores, intercalando entre céu e terra por 7 vezes, pararam juntos e comprimidos no meio de 2 árvores.

"This is the end... My only friend, the end"

Dois meses depois, ela é capaz de então abrir os olhos e ver que o mundo ainda estava lá, negando o seu pedido de desistência. Ela sorri e lembra que descarregou a pistola da cômoda nos dois, metade em cada um, intercalando cada bala e pedido de socorro. Dá uma gargalhada e desliga sozinha os aparelhos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Estava eu... e o McCartney

Há mensagens recebidas em sua caixa de entrada:
Re: oi
Desculpe-me, mas não estou mais interessado neste assunto. Passe bem!


Esse era o maior de todos os medos dela.
Nunca havia escrito uma carta daquelas antes, ou melhor,
nunca teve coragem de mandar para ninguém.
Até porque os outros romances foram platônicos demais.
Jamais quis se envolver com alguém,
não tinha tempo para pensar nessas coisas.
A mais insegura e tímida do círculo de amizades disfarçava muito bem,
mas fazia isso de uma forma cruel com ela mesma:
intimidava as pessoas, principalmente os que despertavam algo a mais nela.
Escreveu uma carta para o único ser que conseguia fazer ela perder o sono.
Ela sabia que era tarde demais,
tudo anunciava:
sua taça de vinho estava acabando e
e o disco do Paul Mccartney havia pulado uma faixa:
Band on the Run
Tomou de uma só vez, com os dois últimos goles de vinho,
duas caixas de Lexotan e deitou-se ao som de Blackbird
Teve medo de uma resposta

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O Curta

I

Dia e noite, Daniel pensava nos detalhes e recursos que empregaria em seu novo curta-metragem. Não seria, para ele, um curta-metragem como os outros que já havia roteirizado e dirigido. Era, antes disso, uma vingança forjada em forma de ficção; ou uma exorcização, como lhe convinha pensar quando a consciência lhe inquirisse. Mas que inquirir? Já havia um ano que Andréia, sua namorada por 7 anos, havia desfeito o relacionamento.

Os detalhes do dia em que ela desatou o namoro não saíam da cabeça de Daniel. Num sábado chuvoso, em tarde que antecedia um até então programado jantar à noite com outro casal de amigos, Andréia pediu para conversar. "Não quero mais", disse com calma a morena que agora fixava os olhos castanhos nos de Daniel. Não era mais aquele olhar que ele tanto admirava. E o sorriso com o qual ele sempre se encantava nem presente estava. Davam lugar a um olhar e uma expressão em que Andréia transparecia certo pesar ao ter que dizer aquilo. O cuidado ao escolher as palavras, porém, trazia consigo a confirmação de que ela estava certa do que queria. Como nas outras vezes, Daniel esboçou certa argumentação, mas logo cessou e paralisado ficou quando percebeu finalmente que Andréia estava, desta vez, decidida. A partir daí nem o jeito respeitoso e até carinhoso com que ela explicava sua decisão, enumerando as brigas, os gênios díspares demais, o desaparecimento do amor dos primeiros dias, nada era captado com atenção por Daniel. Restou a incompreensão, que atravessou os dias seguintes àquele sábado e logo virou tristeza, para logo se transformar em rancor, que logo teria que ser dissipado. Decidiu, Daniel, fazê-lo em sua arte.

Um ano depois novas idéias não cessavam de aparecer para o roteiro do curta, já tido como pronto mas aberto à alguma alteração enquanto as filmagens de fato não começassem. O curta não teria um grande orçamento, nem era plano de Daniel fazer um superprodução. Os recursos financeiros já tinham sido captados e o relativo sucesso de seu nome no meio cinematográfico facilitavam as coisas. Apesar disso, o roteiro escrito trazia muito mais um significado pessoal ao ex-casal do que traria complexidade e originalidade de enredo aos olhos do público. Desta vez, contudo, Daniel não se preocupava em como agradar e surpreender crítica e bilheteria. O alvo era outro. E não poderia faltar uma vírgula que fosse capaz de atingir, ao menos na ficção, o seu alvo. Como na cena do reencontro entre Andréia e Matheus, esse último o nome dado à personagem baseada em Daniel. As cenas finais, pensadas e repensadas:



II

CENA 19 - CASA DE MATHEUS - INT/DIA
Escuta-se alguém tocar a campainha. Matheus abre a porta e vê Andréia, a olhando por alguns segundos. Ainda à porta ela interrompe o silêncio:


ANDRÉIA: Preciso conversar contigo.

Matheus a faz entrar mas não diz nada. Vai à cafeteira e oferece uma xícara à Andréia que nega
abanando a cabeça.

ANDRÉIA: Por favor, é muito importante, Matheus.

Matheus abre o armário, pega uma xícara e mantém a expressão de indiferença no rosto inalterada.

MATHEUS: Vai falando...

ANDRÉIA: Olha, eu sei que eu errei... Não sei onde eu tava com a cabeça... Por favor! Olha aqui! (levanta e tenta entrar no campo de visão de Matheus, que ainda estava de costas, pegando uma colher na gaveta) Matheus, eu me precipitei em acabar o nosso namoro... Meus dias têm sido um inferno, tu não retorna minhas ligações... Tô há dias querendo falar contigo e tu me ignora... Eu tô... Eu tô passando por cima do meu orgulho, droga!, vindo aqui, me humilhando... Tu quer que eu implore, eu imploro. Tu quer que eu rasteje? Matheus, me escuta!

Matheus segura a colher na mão direita, que por sua vez é segurada por Andréia. Nesse momento ele a olha nos olhos, ainda sério. Andréia começa a chorar.

ANDRÉIA: Matheus, por favor, fala alguma coisa. Olha! Vamos esquecer tudo. A gente se gostava tanto! Todo casal tem seus problemas... Volta pra mim. Eu errei! Não devia ter acabado o namoro! Entendo que tu tenha ficado magoado... Mas eu chorei tanto naquela noite por já não ter tanta certeza de mais nada... Me precipitei, Matheus. Por favor, Matheus... Eu te amo tanto. (pausa) Fala alguma coisa, Matheus...

Matheus não demonstra comoção alguma. Ainda olhando Andréia nos olhos.

MATHEUS: Andréia: não!

Matheus dá as costas à Andréia e leva a xícara e a colher à mesa onde já está o pote de açúcar.

MATHEUS: E, Andréia, pode levar meu guarda-chuva. Te dou de presente, não precisa vir devolver. Tá chovendo muito.

Câmera sobre a mesa. Em primeiro plano mostra, apenas, a xícara de café à esquerda e o braço esquerdo de Matheus. Ao fundo, desfocada, a porta.
Andréia vai até à porta, chorando.
DESFOCAR: O foco muda para a porta.
Andréia pára por dois segundos antes de abrir a porta, mas não se vira para olhar Matheus. Abre a porta e sai.
A câmera volta a focar a mesa. Matheus coloca o açúcar no café, mexe com a colher. Leva a xícara à boca.

CENA 20 - FRENTE DA CASA DE MATHEUS. EXT/DIA

Chove forte.
Fotografia em preto e branco. Pouca iluminação.
Posição da câmera imóvel durante toda a cena. Mostra a parte inferior da escadaria, de frente. Andréia desce, e seu corpo vai sendo revelado conforme percorre os degraus.
Pára, em pé, por um instante. Câmera alcança do primeiro degrau a pouco abaixo de sua cintura.
Subitamente, Andréia senta sobre o último degrau, chorando. Câmera agora alcança Andréia por inteiro.

Neste momento entra a trilha: "As Flores do Mal", Legião Urbana. A partir do trecho:

Tua indecência não serve mais
Tão decadente e tanto faz
Quais são as regras? O que ficou?
O seu cinismo, essa sedução
Volta pro esgoto, baby
Vê se alguém lhe quer...

O que ficou é esse modelito da estação passada
Extorsão e drogas demais
Todos já sabem o que você faz
Teu perfume barato, teus truques banais
Você acabou ficando pra trás

Neste trecho: Zoom até fechar no rosto de Andréia, chorando compulsivamente. Maquiagem negra borrada.

Porque mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Mentir é fácil demais
Volta pro esgoto, baby
e vê se alguém lhe quer

FADE OUT ao fim da letra da música.

CRÉDITOS (enquanto o restante do arranjo é executado.)

FIM

(À PRODUTORA: Em caso de dificuldades com direitos autorais para a trilha final, tentar "O Mundo É Um Moinho" de Cartola.)


III

A tarefa de escolher o elenco para o curta apoiaria-se nos mesmos métodos de produções anteriores: a descrição do perfil desejado seria enviada à agência, que por sua vez indicaria atores para um pequeno teste de uma das cenas do roteiro, sob o olhar da equipe de produção e tendo como decisão final a escolha do diretor. Para o papel de Andréia, porém, Daniel decidiu escolher quem ele gostaria que viesse ao escritório de sua produtora para uma entrevista observando um catálogo de atrizes enviado pela agência. Eram fichas com um resumo de experiências profissionais anteriores e um pequeno álbum, três ou quatro fotos, com poses ou registros de atuações. Escolhidas 19 moças, Daniel solicitou que fosse enviada a cada uma delas uma cópia do roteiro do curta na íntegra, e que fossem agendadas a partir da semana seguinte as entrevistas, duas ou três por dia. "É necessário que as atrizes tenham todas as cenas ensaiadas para o teste", observou Daniel no ofício enviado à agência.

Passada uma semana de uma escolha baseada em fotos e rasos perfis era hora de Daniel conhecer ao vivo as aspirantes ao papel de Andréia. Quatro das dezenove moças não confirmaram a entrevista, talvez pelo pouco tempo para ensaiar o texto de uma protagonista (ou antagonista, na cabeça de André), ou quem sabe por estranharem tal exigência. O fato é que seriam agora cinco dias para que Daniel pudesse, em cada um, analisar 3 atrizes. E se deu assim, na bagunça organizada de seu escritório, sem qualquer tipo de registro audiovisual que não o de seu testemunho e observação, que uma a uma foram as atrizes interpretando as cenas pedidas e moldando na face as expressões solicitadas. Daniel prestava atenção em cada detalhe.

"Muito obrigado, qualquer coisa minha produção entra em contato com você, ok?", aperto de mãos respeitoso, e lá se ia o terceiro dia sem que Daniel se satisfizesse com nenhuma das concorrentes. Não que não houvessem boas atrizes. Se para algumas faltava experiência, um talento natural e a desenvoltura para um tipo de teste com potencial tão intimidatório compensavam. Também não era o caso de que fossem de um perfil totalmente adverso ao de Andréia: três delas tinham um rosto muito parecido, inclusive, confirmando o entusiasmo do diretor na hora da escolha entre as fotos no catálogo. Mas faltava alguma coisa. Daniel queria alguém em quem pudesse enxergar a antiga namorada e a este quesito dava mais importância do que à qualidades artísticas ou físicas. Já pensando em abandonar tais exigências e escolher a nova atriz apenas por critérios técnicos, chegava para ele o quinto dia das entrevistas.


IV

Dez horas, manhã de uma quinta-feira, e os olhos de Daniel fitavam a ficha que repousava sobre a mesa com o resumo de uma incipiente carreira. Seria a primeira das três calouras do dia. Era o horário marcado: Daniel pediu à secretária que mandasse a atriz entrar. A moça de cabelos castanhos entrou no escritório com a simpatia de um sorriso familiar e cumprimentou o diretor. Chamava-se Érica e tinha 24 anos, dois a menos que Andréia, mas com o tipo físico semelhante ao desta. Daniel não deixou de reparar a coincidência mas queria saber mais: explicou então em que consistia o teste e quais cenas gostaria de ver interpretadas. Sentada na cadeira do outro lado da mesa, Érica sorriu e com voz mansa pediu que começassem pela cena 3.

- Cena 3? Bom, deixe-me relembrar o texto...

E Daniel folheou o roteiro. A cena consistia em um curto diálogo entre Andréia e Matheus que culminava em uma relação sexual, ainda antes do fim do namoro dos dois.

- Como queira. Há pouco texto neste trecho, mas podes começar por ele e depois fazer as cenas que te pedi.

- Mas não só o texto. Vamos encenar... É uma cena de sexo, não?

Paralelamente sedutores: o mesmo sorriso de antes, que intrigara e encantara Daniel e a aproximação da moça à cadeira onde ele estava.

- Sim, mas não é necessário... É um curta, a cena será rápida e se dará sob sombras. Nudez alguma será mostrada... Poderemos usar até uma dublê de corpo, caso deseje...

- Mas há uma cena de sexo, não?

Mais dois passos de Érica, que agora encontrava-se parada, em pé, logo à frente de Daniel.

- Sim...

- Preciso te convencer que sou a atriz certa pra esse papel...

Entre a incompreensão da atitude inesperada da atriz e a admiração daquele sorriso familiar Daniel pendeu mais para o segundo. Era o sorriso de Andréia - o exato sorriso de Andréia. Agora ele compreendia aquela sensação de reconhecimento. Era como se aqueles lábios e aquela feição fossem mesmo os da ex-namorada, e por algum motivo estivessem na sua frente novamente, depois de tanto tempo, no rosto de Érica. Pouco balbuciou em oposição quando ela desabotoou a blusa revelando os seios. Em pouco tempo já não faria mais qualquer gesto de objeção. Daniel sentia-se como embriagado. A realidade fugia-lhe pouco a pouco, submersa na associação cada vez mais forte à antiga namorada e nas lembranças que vieram lhe visitar. Inebriado, pouco notou do que se precedeu quando Érica já estava ajoelhada, à sua frente, com a cabeça entre suas pernas, lhe envolvendo o membro com sua boca e língua, ensaiando gemidos, pondo em prática muito mais do que a cena descrita no roteiro previa insinuar. Em seu delírio, contudo, Daniel enxergava apenas Andréia. Ela estava ali, com o mesmo sorriso, com o mesmo olhar, com o mesmo sexo. Era capaz de perceber o cheiro da ex-namorada, de sentir a mesma textura de pele ao tocá-la. E essa analogia se devia muito mais à loucura do momento que real correspondência entre os modos das duas mulheres. Érica, inclusive, ouviu em algumas oportunidades Daniel sussurrando o nome de Andréia. Acatando como fantasia, ela se levantou e o puxou pelas mãos. Deu-lhe um beijo demorado, que só serviu para mergulhá-lo ainda mais na ilusão na qual se encontrava. Érica, então, tirou de seu corpo o que ainda restava de roupas: uma saia preta e uma calcinha branca. Reclinou seu tronco para frente, apoiou seus braços sobre a cadeira na qual Daniel estava e afastou as pernas. Olhou para trás, mirando Daniel:

- Vem possuir a tua Andréia...

Daniel continuou sem reconhecer ninguém senão a real Andréia. "Que saudades de ti", pensou consigo, enquanto a alisava na pele macia e clara das coxas, num prelúdio antes de penetrar entre as pernas de Érica. Suaram-se os corpos, elevaram-se os gemidos. Em algum tempo, segurando os cabelos dela, os batimentos cardíacos de Daniel se tornaram mais freqüentes. Tremores pelo corpo acompanharam o aumento do prazer, a respiração passou a ser ainda mais ofegante e o gozo retido foi finalmente dissipado. O relaxamento que se seguiu o deixou paralisado por alguns segundos, e à medida em que buscava um equilíbrio para seu espírito a realidade vinha-lhe sendo descortinada pouco a pouco... Seus músculos foram relaxando, ao momento em que mirou nos olhos de Érica. Ela sorriu, mordeu os lábios de satisfeita e se dirigiu às suas roupas. Daniel finalmente se dava conta, sob um clima de ressaca e revelação, do que realmente havia acontecido.

Com pressa, Daniel vestiu suas roupas e pegou as chaves do carro. Deixou Érica na sala e saiu correndo em direção a seu automóvel. Saiu em disparada: iria procurar Andréia. Teria que falar com ela de qualquer maneira e pediria que reatassem o namoro. Não haveria mais vingança alguma, filme algum, que bobagem! Mudaria seu comportamento com ela. Seria mais atencioso, o que ela pedisse! Pelo seu perdão por qualquer coisa que tivesse feito, imploraria! Rastejaria para tê-la de volta. Se preciso fosse, se humilharia sobre e sob os pés dela...

Ainda no escritório, Érica guardava na bolsa o resto da cartela de camisinhas, sorria e pensava satisfeita no papel de destaque que finalmente conseguira conquistar.

domingo, 5 de agosto de 2007

Estava eu 'em busca do equilíbrio e da serenidade'....


...quando olhei a foto desta vaca. E foi assim: preciso ser como a vaca. A comer sem mastigar, depois regurgitar o alimento, degustando por horas. Eu, ao contrário, vomito, não regurgito; monstro humano não sabe fazer direito, não sabe engolir. Viver tranqüilamente na vacaria, sem essa de querer viajar pra longe, pôr mochila nas costas e coisas que humano gosta de inventar. Só sai pra passear se o tempo estiver bom, pra fazer algum tipo de exercício, ver o pasto. A vaca vive pro seu bezerro, pro humano também. Aceita o subterfúgio de ser vaca. Por ser animal tão solícito e sereno, na Índia, a vaca é sagrada (aliás, procurei e não achei uma razão convincente para o fato, algo que enriqueceria culturalmente este texto). Os Hindus, um povo sereno, que vive numa sociedade de castas, aceitando a origem, deixa a vaca passear na feira, comer fruta, cagar no meio da rua.

E eu aqui, sofrendo por questionar, miro mais uma vez a vaca. Tirei essa foto em Nova Trento, ou melhor, no interior de NT. Um lugar que me traz tranqüilidade, eqüilíbrio, a serenidade que eu preciso agora. Hoje, na frente do excitante computador, eu me espelhonaquela vaca que fez pose pra mim na foto. Serena. Eqüilibrada. Me dizendo "Ana, é assim. Aceita."

Pois é...Preciso engolir e regurgitar mais, chega de vômitos...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Troféu Procura do Mês - TPM

E o Troféu Procura do Mês, o TPM, (juro que saiu sem querer) desse mês é.....:

"como vomitar?", procurado por um lisboeta, considerando possíveis distorções que um proxy ou estas coisas das quais não entendo podem trazer.

Aqui.

Torço, sinceramente, que o cidadão (ou cidadã, vai que é uma anoréxica...) tenha conseguido expulsar os demônios.

Menções honrosas ao não identificado curioso que chegou por nosso blog ao questionar "porque se vomita a bilis". E uma dica ao cidadão líbio: tente o www.pornotube.com.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Estava eu... eu estava?

Não aprecio quando o tomate trás o gosto da melancia.
Vem cá! De que adianta se a água morna e a C não evitam o corpo quente e o espírito frio?
Que dor destes segundos. Que dor de não ser primeiro em minha própria vida.

O embrulho, o desconforto: cobrança.

O viscoso da noite fede de dia.
Só assim pra aprender.

Todos têm as suas drogas
Todos têm as suas drogas

Todos têm as suas drogas!

Alguém dono pleno de si mesmo? Quem?

domingo, 8 de julho de 2007

Estava eu... Sobre escrever e vomitar


Escrevo para vomitar. O ritual da escrita é o mesmo do vômito: começa com a ânsia, o desejo - isso é incômodo, é revoltante - ; aí vem o ensaio do vomitar, o rascunho do escrever; vai o deslanche – texto e vômito se materializam. Instantes depois, vem o nojo. Nojo de olhar aquilo tudo; nojo porque tu vai passar por aquilo de novo, nojo porque aqueles que assistiram às tuas linhas e aos teus restos, vão falar mal de ti no dia seguinte. Não me importo: o que eu sinto é alívio. Alívio de não ter me calado, de não ter engolido o que não digeri. Até pouco tempo, eu tinha vergonha de vomitar palavras: hoje eu quero lavar a tua vida com elas. Vomitar até a bile, como quem toma um porre de barriga vazia.
Escrever não é fácil, assim como vomitar. Precisa da vontade, precisa ter comido algo estragado antes. Por isso que na escola a gente sofre para fazer redação. Nem professor escreve, muitas vezes! A gente não é preparado, não lê. Só se vomita porque o corpo se preparou para aquele ritual. E para a escrita, estamos preparados? Por favor, dispenso as fórmulas “introdução, um argumento, entretanto, enfim”.
Quem escreve, expulsa a idéia. Quem vomita, expulsa a comida. Que elas doem, dizem os masoquistas que se fartam de porcarias e palavras.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Romances ideais e rituais de conquista já não figuram mais entre as 7 maravilhas sentimentais. O ganhar ou perder está muito mais fácil e direto. Entretanto, ocorre eventualmente um acidente de percurso que faz o coração bater mais forte, e é exatamente essa a hora de reinventar a velha fórmula , utilizada pelo avô e avó.
Foi exatamente assim que Ricardo fez ao conhecer Andréa. Sondou o terreno, descobriu do que ela gostava, quem eram seus amigos e tratou de se aproximar. A diferença de idade não foi obstáculo para convida-la diversas vezes para sair, tomar um vinho e escutar The Beatles. Apesar de terem gostos muito parecidos - os dois cursavam história, ouviam as mesmas músicas e tinham vários amigos em comum - pouco haviam se falado pessoalmente.
Ricardo era insistente, e com ajuda das palavras bonitas, dos acordes do seu violão e das frases de menino pidão: " - Uma mulher como você jamais aceitará sair com um roqueirinho como eu." Conseguiu convencer Andréa à jantar naquela noite fria: o prato delicioso de canja estava apimentado, a canja musical estava repleta de Beatles, e o vinho - esse fez os dois esquecerem de muita coisa, e resolver sair dali. Incentivados pela canja, apimentaram a noite e acompanhados pelo vinho, Lennon e Mc Cartney, dormiram.
Toca o telefone no meio da noite, Ricardo, assustado, atende meio dormindo, conversa e volta para a cama. Observa que tem algo errado: Tudo não tinha passado de um sonho.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Estava eu... soluçando.

ic! #1
- Deus, você existe?, disse o homem com os braços e a cabeça erguidos.

O céu, então, escureceu. Ouviu-se um estrondo, e raios cortaram o véu enegrecido. Subitamente, abriu-se um clarão no horizonte, e dele, um feixe de luz estendia-se até o homem, de corpo inerte. De onde nascia aquele brilho intenso, uma voz grave e destemida disse:

- Não!

ic! #2
Prosaica prosinha do prisioneiro:
- Meu prezado, ao fim do prazo, eu lhe apresento com prazer o meu presente: o presunto do presidente.
- Não é prosinha, presumo.

ic! #3
Neoquadrilha
João amava Roberta que amava Joana
que amava Paulo que amava Gabriel
que amava a cabrita Mimi que não amava ninguém e nem podia.

João foi para a França, Roberta virou adventista,
Joana ainda faz lipoaspiração, Paulo é adicto
e Gabriel tem hoje uma boneca inflável.
De Mimi não se sabe.

ic!
Bebi um copo de água e o espasmo cessou.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Estava eu...conhecendo

Logo logo
Um...
monólogo?
Dois...
diálogo?
Logo logo
logus...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Estava eu... ressucitanto uma idéia!

Coragem, blog amigo meu! Aguarda e verá que não só de visitas viverá!

Quando teu dono, cansado mas astuto
Te encarar um dia com carinho
Verás que dentro da mente do bruto
Também sofre um homenzinho!

Cabeça conturbada e sem nexo
A jorrar rios de letra e sofrimento
Por ao sol prosa letrada em sexo!
Para o prazer e o divertimento

Alheio

terça-feira, 29 de maio de 2007

Estava eu... entre minutos e segundos.

Sete, oito horas de trabalho, e ele havia terminado o que tinha para fazer.

Mas que faço agora, meu Deus?

Trabalhava em casa, como ainda faz, e não havia planos para aquele breve período de ócio que o dia lhe oferecia, como que ainda lhe dissesse: "Que reclamas, se te dou algumas horas para não dizeres que gastas mal a vida, e estás parado?"

E ficou parado, sentado sobre a cadeira giratória que lhe auxiliava muito na hora de pegar os papéis e os documentos e o telefone e tudo mais que se encontrava tão longe...tão longe... tão distante de como ele gostaria que fosse.

Não bateu ninguém à porta a perturbá-lo, não ligou televisão ou rádio, não disse nada nem a si mesmo nem a Deus. Ficou quieto, pensando, e não chegando a conclusão alguma, como sempre.

Que fazer agora, meu Deus?

Divagou sobre como venceria aquelas poucas horas, indeciso entre o fútil e o erudito, sempre a acolher-se da eterna incompreensão sobre a finitude e o patético da vida e do universo, e à procura de um abrigo e de um sentido para alguns minutos e segundos.

sábado, 12 de maio de 2007

Estava Eu... levando um peteleco.

Ele não era o único a estar ali, no meio da Praça Brasil, a se apoiar na ponta dos pés, para ver o que todos queriam ver. Iria perder essa oportunidade? Claro que não... Tudo mais poderia ficar para depois, e era perfeitamente justificável apertar o pause e matar a curiosidade, saciar a euforia de ver algo que não acontece todo dia por essas bandas. Ele e milhões, atentos a cada movimento, seguindo aquela atração ímpar que se desenvolvia ante seus olhos.

Nosso amigo seguia se esticando todo para enxergar o incomum quebrando a monotonia dos dias na Praça Brasil quando, do nada, sente uma pequena dor em sua orelha direita. Demora até tomar consciência, já que desfocar a atenção que se dava exclusiva ao espetáculo público não aconteceria de imediato. Deu de ombros. "Pode ter sido um mosquito", pensou o nosso amigo, que já voltava seu corpo e sua mente para a atração de milhões como ele.

Entretido, o nosso amigo já nem lembrava do que teria causado a dor na orelha direita quando sente algo, desta vez na orelha esquerda. Olha para trás, para os lados e desta vez consegue entender claramente: levara um peteleco na orelha, um peteleco bem dado, daqueles que dóem mesmo. Olhou nos rostos dos que o acompanhavam na multidão mas não achava expressão suspeita. A averiguação não durou mais que 10 segundos. E 10 segundos já era muito tempo perdido para o show na Praça Brasil que, afinal, teria ocorrido quando pela última vez? 10 anos atrás? Ora, nem Copa do Mundo demora tanto!

Já estava morto qualquer desejo de descobrir quem lhe dera os petelecos ante o brilho do espetáculo quando nosso amigo de órgãos auditivos vermelhos leva um tapão na orelha direita. Era o golpe definitivo. Amigo leitor, afirmo que essa doeu bastante! Com o ouvido captando um zumbido, resultado do tapa, ele imediatamente se vira para trás e não entende. Mas desta vez nem procura um sorriso ou olhar suspeito entre os que o acompanham. O centro da Praça Brasil continua com sua atração, e nada naquele momento poderia ser mais importante do que o homem vestido de branco.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Estava eu... remoendo um amor antigo.


Ri-se satanás, às custas de minha ignorância
Por entre os dentes eu sussurro seu nome
Minhas mãos ao trabalho não dão importância
Somente as letras e o texto me consome

Em que diabo de vida eu fui me apanhar?
Ao léu meu peito se abre e se fere todo dia
Eu conheci o amor, então eu pude amar?
Como o amargo fel da dor me contraria!

Te esperei por dias, meses, por muitos anos
Eu quis estar contigo, em outros planos
Mas a espera me tornou vazio e sem destino
Sozinho agora, somente vivo em desatino

Cuidando das feridas que na alma me aparecem
Todo dia, com ungüentos de carinho e de saudade
Eu esbravejo, dia ou outro, aos que padecem
De mesmo enfermo, para que sumam da cidade

De queixo duro e de testa franzida de dor
Olho adiante como último recurso a não tropeçar
De que me adianta ter ainda um pouco amor
Se não me chamaste nem um dia para dançar

Minha mente se alicia ao meu coração
E me deixa sem ninguém para contar
Que um dia era feliz por ter noção
Que a cabeça foi feita para pensar

Pequeno brilho bem adiante eu pude ver
Quando achei em mim um pequeno fragmento
Não era você, nem mesmo eu podia ser
Talvez seja da paixão um último testamento

Carta de amor, que escondida era silêncio
Me enche os ouvidos e os pulmões de ressaca
Tu não sumiste sem deixar o teu fino traço
Fincado ao meu peito, como uma estaca

A despedida foi simples e o motivo foi banal
Eu devia saber mas ceguei-me de puro mimo
Envolvida agora em conjuntura carnal
Com meus poemas e minha ausência eu não animo

Amassada agora à um canto segue silenciosa
A missiva falante agora cala seu cio letrado
Minha boca que seguia um tanto temerosa
Sucumbe ao gole seco do fermentado

domingo, 29 de abril de 2007

Estava eu... no ônibus, louca de frio

com os olhos congelando por causa do ventinho que entrava pela fresta emperrada da janela,
e pensando no verão,
no verão de 1999

Ahhh o verão,

Eu acordava todos os dias 7 horas da manhã, corria na praia e ia pra trabalhar. Trabalhava na loja da minha tia, não recebia nada por isso, mas gostava de ter uma ocupação diária durante toda temporada.
À tarde revezava com a minha prima, um dia de praia para cada uma. No meu dia de praia, eu andava uns 8 quilômetros até a casa dos meus amigos para passar a tarde com eles. Chegava cedo pra curtir um banho de piscina, e dava de cara com várias coisas ali: garrafão de vinho (cheio), melancia e às vezes outras frutas. Na casa não tinha geladeira, e a única maneira de manter a comilança resfriada era tocando na piscina.
Quando ia chegando a finaleira da tarde, fazíamos o ritual sagrado: Pegávamos os violões e cada um vestia suas camisas:Léo, a do Pink Floyd; Marcelo(Gardenal), a do Led; André, a do Nirvana; Leandro, a do Grêmio; e eu, alguma das minhas camisetas de rádio. O caminho era sempre o mesmo, a praia; a bebida era sempre diferente, tinha todos tipos de bebidas: vinho tinto, branco, de pêssego, de morango...
Quando rolava grana, entrava pão com banana e Natu Nobilis. E quando chovia rolava o que tinha dentro de casa mesmo. Podia faltar cachaça, mas Raul Seixas e Led Zeppelin estavam sempre na ponta da língua, nos finais de semana os outros guris da turma iam pra lá. Às vezes a minha prima saía do trabalho e ia pra lá também, mas não era "a galera" dela, Ela não entendia o nosso dialeto, não gostava da nossa música e não conseguia assimilar quando eu e o André começávamos a cantar The Verve; mas bebia muito bem, assim como nós! Então comparecia de vez em quando.
Foi naquela época que eu conquistei a minha carteirinha da FUNAI, chegando em casa de madruga, e tendo que trabalhar no outro dia. Nos tratávamos como verdadeiros irmãos.

O verão acabou.

No inverno seguinte o André e o Léo viraram papai, o Marcelo se mudou, e o Leandro começou a trabalhar demais. Às vezes nos encontramos e ainda concordamos em uma coisa:
Aquele foi o melhor verão de nossas vidas!

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Estava eu... abrindo a velha caixa de sapatos...

Baú do Manfri
(do tempo púbere em que eu era um poeteiro)


#1 (v. 2000)

E eu procuro entender
Tento, mas é só respeito
A quem deixou que o Destino
Movesse as peças desse jeito.

E honesto a mim sigo tentando
Livrar-me do que foi deixado:
Amor resulta em mil feridos
Nem quem se salva é culpado.

domingo, 22 de abril de 2007

Estava eu... no dia 22 de abril

22/04: Dia da Terra e Descobrimento do Brasil.

Ao primeiro ver, pode-se pensar em duas datas geográficas. Assim que o 'second thought' chega, tu pensas em duas datas políticas, sociais, ecológicas e totalmente-a-ver com a nossa existência. Tem um monte de amigo meu que diz: "Bah, tu sonha demais. Parece a guriazinha do 'vamos salvar o mundo das cáries'. " Pois é, admito que eu vejo luzes no fundo do poço e acredito que é lá que o mundo, o Brasil, a Cachoeirinha, a Paula se encontram. Estar no fundo do poço, por mais claustrofóbico que pareça, é um lugar bom, porque é no escuro que a gente se desespera e procura a solução mais ágil e prática. O problema provoca, faz a gente vencer a inércia mental e a acomodação do corpo. A coisa complica quando se desperta já quando é noite e tarde demais. Aí entra uma coisa que, ultimamente, eu ando matutando e treinando muito: o olhar. Como eu percebo as atitudes das pessoas, as minhas, das instituições, do Poderes, da mídia, da natureza. O olhar frente às atitudes, em tudo que acontece. Ano passado eu assisti a uma conferência da Copesul "Metamorfoses da Cultura Contemporânea" e o filósofo Gianni Vattimo disse assim "o ser não é, ele acontece" e ele exemplificava com a pergunta "o que tu és?" cuja resposta sempre vem "ah, eu sou engenheiro, estudante, dona-de-casa, atleta...". Enfim, nós somos o que fazemos, indo além do estático "ser". Outra coisa que eu sempre relaciono é com a expressão "atores sociais" que a gente ouve muito falar, que nada mais são as faces, os papéis que desempenhamos na sociedade. A Ana Paula que toma cerveja com os amigos na sexta-feira é diferente daquela que é presidente do Clube Literário, por exemplo.
Mas o que tudo isso tem a ver com o 22 de abril? Muita coisa. No hoje que vivemos, o olhar deve ser desconfiado, crítico, questionador. E claro, seguido de uma prática diária de cidadania. Não tô falando de coisas exorbitantes, algo como largar tudo e todos, mas de uma prática consciente e constante. Isso me lembra o meu pai contando de como era o centro de Porto Alegre nos anos setenta, da poesia daquele lugar, dos cheiros agradáveis, dos prédios históricos... Hoje, o que eu vejo? Um centro cinza, cheiros insuportáveis, pessoas apressadas... Eu nunca vou ver o centro do jeito que meu pai viu. Sabe por quê? Por causa de um crescimento desordenado, não-consciente... O que eu planto hoje, eu colho amanhã. Ou não, pode levar anos ainda e eu nem ver, mas os Cecatinhos vão.
Finalizando o pano da manga, o olhar atento seguido da práxis cotidiana, é o maior desafio da nossa geração. Isso não é fácil. Tem que ler muito, aventurar-se, errar e voltar, até mudar o foco das nossas lentes. E isso é a questão política, ideológica, social, ecológica que esta data nos apresenta. Isso é ser, ou melhor, acontecer.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Estava eu... continuando uma história (Parte 2)

Eu não podia acreditar. Eu estava ouvindo seres inteligentes, pensantes e contestadores dizerem que “escreviam para si mesmo”. Ergui-me da cadeira, já ébrio e com pouca razão, porém muito certo do que diria:

- Certo, engavetemos então todos nossos sentimentos, como raiva, paixão, ódio, amor, e o que mais nosso coração conseguir sentir antes da ruptura. Engavetemos também junto o nosso direito de expressão, o nosso poder de transformar o subjetivo em concreto. Evitemos mostrar a nossa genialidade e nosso emprenho em vencer a asfixia de uma vida dura e corrida. Entretanto, não esquecemos que ao fazer isso, estaremos por suprimir a possibilidade de um dia servirmos de exemplo a alguém que pensou em fazer o mesmo. Excluiremos do futuro de todos os que viriam e ler as nossas entranhas a possibilidade da identificação de um traço comum, a identificação de uma veia artística, poética que o leve a compreender o porque de seus devaneios, o porque do próprio questionamento “porque” de seus pensamentos. Ao pioneirismo cabe o direito de derrota, mas não da desistência. Nada é de graça nesta maldita vida, e creio que para a evolução de cada cabeça aberta aqui nesta hora, é necessário o julgamento do público. Escrever a si mesmo é masturbar-se. Trazer a público, entretanto, não é sexo explícito, é relacionamento.

Tendo achado suficiente a minha pressão por uma concordância positiva, tentei novamente sentar à cadeira. Injustamente, ela não sustentou o meu corpo mole e sem controle direcional, jogando-me miseravelmente no chão. O meu copo caiu, e levou consigo o que restava de minha cerveja e dignidade.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Estava eu... continuando uma história (Parte1)

Adianto ao leitor que não houve uma resposta unânime. Está certo que a primeira reação foi a de entusiasmo, seguindo embalo das amenidades contadas em alta voz e do bom humor que pairava após uma hora e meia de bom papo. Porém, passados alguns segundos, diminuída a excitação da idéia acatada sem reflexão, uma das meninas ponderou: "Eu acho que não rola... São coisas muito pessoais. Não acho que eu queira colocar meu coração exposto assim em uma prateleira. Pra que olhem, folheiem, julguem, guardem no pensamento ou esqueçam! Não..."
Outro concordou: "Pois é: uma coisa é escrevermos e dividirmos nossas linhas entre nós mesmos, sendo autores e atores de muito do que versamos e proseamos. Outra coisa é esperar que os que nem nos conhecem possam sentir aquilo que tentamos passar. Escrevo pra mim mesmo!"
Outros "conjuntores aditivos" também deram seu parecer: "E lançar livro é difícil à beça..."

Estava eu...começando uma história

Um grupo de amigos.
Ao todo, não sabiam quantos eram. Conheceram-se por acaso, num dia que não chovia nem fazia sol, muito menos caía neve ou estava nublado. Nesta história, até o tempo climático é atemporal. Era gente muito ocupada e, para aniqüilar a saudade, trocavam cartas diariamente. Alguns atualizavam a turma a respeito das últimas notícias, outros lançavam brincadeiras pra alegrar a rotina, e, até os mais atarefados deixavam seus monossilábicos, aliviando o coração dos outros amigos. Se tinha alguém que não respondia nunca, vinha uma cartinha recheada de carinho e bem-querer perguntando "oi, tudo bom? como tu tá?".
Viam-se aos finais de semana, quando a rotina dava um descanso. Encontros regados a palavras, cervejas, abraços, pastéis, xis-coração, sorrisos, refris, caipirinhas e alegria. Um findi desses estavam num barzinho, alguém teve uma idéia: "Porque a gente não faz um livro de tudo o que a gente escreve?"

(DESAFIO: continue a história...)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Estava Eu... no dia 13, uma sexta.

- Tá, amor, agora a orelha.
- Peraí que vou lavar a faca.
- Tá.
- Pronto. Começo pelo lóbulo ou pela hélice?
- Hélice?
- É. Essa parte de cima...
- Hum. Tanto faz!
- Tá. Lóbulo esquerdo.
- Aiiii. Dói!.
- Óbvio, é carne. Até agora tu não tava te queixando...
- Ai, eu achava que na orelha ia ser mais tranqüilo.
- Mas olha como a faca desliza fácil... Pronto. Vou deixar a hélice pra depois. Que tal o nariz?
- Ok. Bah, quando fiz em ti, na hora do nariz, foi a pior parte...
- É, eu tava gripado. Falando em gripe, tu viu que no jornal diz que vem uma frente fria por aí?
- Capaz?
- Aham.
- Merda... Mas pelo menos dá pra curtir um cobertorzinho, né?
- Uhum... Eu e meu amorzinho... Minha fofura... Meu pudim de côco...
- Hum... Que mais?
- Meu coração, Não sei porque, Bate feliz, Quando te vê...
- Le canzoni basta coglierle, Ce n'è una anche per te. Me dá um beijo!
- Tá. Deixa eu cortar esse essa parte pendurada...
- Ah, respingou no sofá.
- Foi mal...
- Acho melhor a gente arrumar essa sujeirada toda e continuar amanhã.
- Vou pegar uma sacola. Olha que tanto!
- Aham.

Limparam a casa e foram ao cinema.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Estava eu... entre brumas de inconciência.

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Flutuava num limbo de insolidez.
Poderia ser eu uma identidade mínima, que tivesse um pouco ainda de mim, mas de forma ínfima? Um símboo que me representasse, um stigma, uma marca apenas? Uma tatuagem?

Poderia eu ainda, perder tudo de mais supérfluo e ser eu num risco de grafite no papel?

Acordei enredado em sonhos e cobertas. Toquei o chão com os pés nús, uma extremidade mórbida de mim.

Poderia eu ser mínimo, ínfimo, e ainda ter de cortar as unhas?


Foto by Arlise. texto by Nuñez. Foot by Gaby.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

24 horas

acordo.
novo ânimo.
bom dia, sol
dentes escovados
leveza
café tomado
rotina...
compromissos.
resoluções._
...
pensamentos
_
...
por quê assim?
_
__ _
1-2-3-4-5-6-7-8-9-10-10-9-8-7-6-5-4-3-2-1
___ __ _
não, hoje não.
_ _
hojE nAdA IRá eSTRaGAR MEU DIA!
__ __ __ __ __ __ __

BATIMENTOS; ANGÚSTIA.
CONSCIÊNCIA...
PRESSÃO.
respiro
ERRO, ÂNSIA!
INCONSCIÊNCIA!
DÚVIDAOBRIGAÇÃOCULPAMEDOMERDA!!!INCONFORMISMOPESOSUF
OCAMENTOINCOMPREENSÃONÃOQUERONÃOGOSTONÃOAC
EITOORAVÁSEFODERÓDIOVINGANÇABLASFÊMIA!!!!!!!!!!!!!!!!!


!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

!!!!!!!

!!...

...

.

?


por quê?
...
?
.
banho
amanhã é outro dia
"sempre em frente"
boa noite
durmo
.
.
.


; ; ;

terça-feira, 10 de abril de 2007

Estava eu... fora de sintonia!


Foi só botar o pé na rua, e uma chuva fina começou a cair nas minhas costas. Voltar pra pegar guarda chuva? Que nada. Choveu mais forte.
Na parada de ônibus eu fico à olhar horizontes. Pessoas vêm, pessoas vão, e eu continuava ali.
O dia começou mal.

Perdi o horário do almoço. Um sanduíche tentou me consolar, mas às 3 horas o meu estômago me lembrou de sua existência novamente.

Saí da empresa muito atrasado. O ônibus não me esperou. Denovo.

Enquanto meu celular tocava, o dia todo, eu fiquei fora da área de cobertura.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Estava eu...pecando palavras

Matei
cheguei pro final

Roubei
lá não tinha nada

Caluniei
e foi calada

Quando pequei
já era tarde
e nem noite era.


( ao papo que tá rolando aí...)

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Estava Eu... apressado.

Tenho exatamente 41 minutos pra escrever algo. É, tempo é dinheiro, já diria aquele. Se eu não errar na ortografia das palavras já está bom. Pedir para que não haja nenhum erro de concordância será demais, eu sei, mas esse pecado eu já cometo com tempo disponível, então azar... Aliás, ser o único que não escreve textos com potencial literário até agora por aqui me deixa meio na reserva. Mas vamos lá!

Interessante que tô falando com o Nuñes no msn intercaladamente ao escrivinhamento daqui. O tema, na verdade uma premiere para um futuro debate, é religião e fé. Esse assunto é muito interessante. Lembro bem de uma vez "num sítio por aí" em que algumas pessoas passaram a noite toda (enquanto a maioria já dormia) trovando sobre Deus, religiões, pecados e justiça. Foi muito legal. Falando nisso, amanhã é Sexta-Feira Santa. E aí...

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Rodrigo e Baleia. Classe média alta. Dois legítimos filhos-da-puta, no sentido "filho-da-puta" da expressão e não no de definir o ganha-pão das mães deles... Futilidade na cabeça, correntes no pescoço, rap em som alto, milhares de reais na roda do carro, e a vontade de fazer "uma boa ação" na semana da Páscoa: doar alimentos aos mais necessitados. Mas não a qualquer um e não qualquer alimento. Tinha que ser uma família bem pobre, de favela, e muito católica. E o alimento a ser doado tinha que ser carne vermelha, alcatra, perto de vencer a validade. E o dia da entrega deveria ser a sexta-feira da Paixão. De manhã. Filhos-da-puta eles...

As famílias acabavam comendo a alcatra no sábado. Mas passar pela sexta-feira era ainda mais cruel que o normal.
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Joice e Téo. Classe média. Vegetarianos, mas do chatos metidos a intelectuais. Ateus e críticos a toda opinião em contrário. Não comiam nenhum pedaço de carne. Nenhum derivado de um boi, ou de um porquinho, nem um mísero ovo de uma galiha ou de um pato. Nada. Nem em dias de festas. Nenhum dia. Nenhum, a não ser na Sexta-Feira Santa. E ainda convidavam amigos não religiosos pra churrascada. E o som alto com Bruno & Marrone tocando era o modo de comunicar à rua inteira que ali se fazia um verdadeiro, legítimo e popular churrasco. Pessoal, acreditem, a Joice chegava a se babar de satisfação atracada naquela costela de porco.

Mas só na sexta, pois eles são vegetarianos convictos...
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Acabei não falando do "grande sacrifício" que é comer uma pratada de peixe no lugar de carne vermelha. Pronto acabei falando perto da linha de chegada.

Feliz Páscoa a todos!
Valeu, peixe! (999 gols)
Valeu, Inter! (98 anos)

18:14. Vou publicar essa joça e ir pro banho.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Estava eu... em parceria com a Arlise.

Foto by Arlise. Texto by Nuñez.


Uma cela lacrada de 1,5X1,5m, um enorme espelho lhe encara em uma das paredes. Será para tornar o ambiente maior e diminuir o sentimento de aprisionamento? Ou será para diminuir a solidão de se estar sozinho em tamanha caixa de ferro? Não sabe.


O cara no espelho lhe olha como um desconhecido. Na verdade, não tão desconhecido, mas um amigo abandonado. Sem saber o porque das olheiras, o porque do cabelo raspado. O que lhe parece um homem que não sorri ao se deparar com alguém em recanto tão solitário? Não demonstra a mínima solidariedade para com um semelhante em mesma situação. Acha desnecessário contorcer os músculos da cara para confortar e dar abertura ao diálogo. Estampa logo na cara um "não me perturbe hoje" e vira-se para a porta.

O cara no espelho, no entanto, não se vira. Olha as costas daquele homem que ele um dia pensou em ser um exemplo de sucesso. Achou que se fosse assim, a natureza se encarregaria de lhe fazer feliz. Entretanto, o dinheiro lhe sorri nos bolsos, o que ele não compreende em seu coração. Não pode ser feliz, pois abandonou a esperança para ser rico, abandonou a amizade em nome do sucesso e abandonou o amor pois não tinha tempo de ser feliz.

A porta se abre a tempo do homem do espelho sair correndo e corrigir tudo.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Estava eu...estreando

Estava eu gerundiando em busca de algo pra escrever e estrear minha participação neste blog. A vontade adolescente, a expectativa pela primeira mijada da manhã, o êxtase preliminar... Preciso marcar o território.
Pensei em vomitar textos hoje. Vomitar, por mais tosco que seja, pode ser saudável. Mas seria falso demais pra quem apaga-reescreve-muda constantemente se declarar uma vomitadora de linhas. Vamos ao trabalho árduo com a palavra e a idéia, sintagma e paradigma, forma e conteúdo, ai - a cabeça dói, as luzes do Msn piscam e os olhos estão se fechando...
Faltou luz. Chega por hoje, Ana.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Estava eu... virando o fio.

4 gravatas furtadas, e uma carreira praticamente impecável destruída.

O mundo não perdoa. (A menos que você tenha feito escondido, não é?)

terça-feira, 27 de março de 2007

Estava Eu pensando no You Tube...

...e em como o site revolucionou a Internet. Acho que não estou falando bobagem (e caso esteja peço que o Thiago se manifeste e me dê nos dedos) pois a possibilidade de resgatar preciosidades antes esquecidas nas antigas fitas vhs que uma pessoa havia guardado no fundo de uma gaveta da sala, e poder dividir estas imagens com o mundo é algo fascinante. Questão autoral à parte, foi no You Tube que encontrei uma série chamada "A Onda" ("The wave"). A história é baseada em fatos reais ocorridos em 1967 em uma escola estadunidense localizada em Palo Alto.

Em uma aula sobre o Nazismo, o professor Ben Ross é questionado por um aluno sobre como os alemães aceitaram as barbáries cometidas pelo governo de Hitler contra os judeus e outras minorias, sem protestar. O que se segue no filme é uma interessante metáfora (que talvez seja exagerada e didática demais) sobre a oposição entre a vontade de um grupo e os direitos individuais.

Guiados com lemas como "a força pela disciplina", "a força pela comunidade" e "a força pela ação", os alunos de Ross vão seguindo seu líder e reproduzindo, sem perceberem, o perigoso processo ocorrido na Alemanha dos anos 30 e 40, onde um padrão determinado pela maioria se sobrepôe a qualquer valor individual ou pensamento diferente.

Se um regime democrático já possui suas falhas na busca de guardar os direitos individuais, não é em um governo fascista, que resolve diferenças inatas exterminando-as, que se encontrará a solução. Mesmo que essa filosofia anti-diversidade apareça sob um véu de proteção, como na propaganda nazista.

Pensando nessa relação entre disciplina versus liberdade lembrei de uma letra do aniversariante do dia (Renato Russo faria 47 anos hoje) que fala exatamamente nisso: "Disciplina é Liberdade. Compaixão é Fortaleza....", diz a canção "Há Tempos" da Legião Urbana. Para uma possível interpretação de que Renato estaria pregando o fascismo como condição para ser livre, o próprio letrista explica o trecho e já nos incita a outro tema:

“Eu estou falando de autodisciplina. Se você pensar numa relação sujeito-objeto é fascista, mas numa relação sujeito-sujeito, não é.”... (Revista Bizz - 1990)

Usando como exemplo a vida do próprio autor da letra, é possível entender uma referência à íntima relação de Renato com as drogas, e todas as intempéries que ela trás aos que conquista. Autodisciplina... Outro bom assunto, mas sem querer fugir muito do que eu estava falando...

... A Onda merece ser vista, já que ainda estamos longe de vivermos em um mundo onde a diversidade de raça, sexualidade, religião e pensamento ainda é motivo para tanta discórdia e intolerância. E é justamente essa diversidade que, se este blog engrenar, tenho certeza!, será o maior ingrediente dessa união de amigos. Todos com sua individualide, seus gostos, seus modos de expressão e suas diferenças...

Sintam-se à vontade! Espero vê-los na sala freqüentemente.

Heil, Liberdade!

(A Onda no You Tube (primeira das 5 partes)

Estava eu... me drogando

Quando encontrei na internet um tal de I-Doser. Experimentei este findi, e tenho minhas dúvidas.

É só instalar o programinha e rodar. Ele vem com dois "Samples" de drogas: Cafeína e Moderador de Humor (Ex.:Diazepan). Esperimentei os dois e posso afirmar...

Cafeína:

Foi a primeira que experimentei, por ser minha bebida predileta e por estar com sono no momento do teste. Resolvi que seria uma boa pedida tomar um popular cafezinho na sua versão virtual. Apesar de saber que o aroma e sabor não podem ainda ser "emulados" no PC, eu achei que seria interessante como experiência.

Ao dar "start" no esquema, achei que minha placa de som estava com problemas, ou o meu fone tinha ido para o espaço. Uma chiadeira, junto com ruídos esquisitos, tive até que baixar o som. Quando percebi um certo ritmo, uma cadência, e fiquei prestando a atenção. O barulho mudava, acelerava e parava de tempos em tempos. Outros ruídos se somavam a barulheira estranha e uma barrinha ia avançando no tempo. Não sei se por querer que isso acontecesse, ou se realmente o troço funciona, o fato é que ao fim de 5 minutos de "shhhhhiiiiiis" e "bloing-bloings" eu estava muito mais ligado e com os olhos bem abertos. Achei a experiência bem interessante, apesar de bizarra.

Moderador de Humor:

Ulguns minutos depois de tomar um "Expresso com Chiado", não me aguentava mais de curiosidade para ver o resto. Só tinha mais uma cortesia do I-Doser, que era o moderador de humor, com o sugestivo nome de Sleepy Angel (ou coisa assim). No instindo, carreguei a dose na "seringa de bits", para depois usar. "Vou deixar uma dose preparada pra mais tarde - pensei - quando for dormir". Daí que li o aviso, ao tentar fechar o programa, de que se eu desistisse agora, eu não poderia usar a dose depois. Parece aquele seu amigo drogado, querendo te levar pro mal caminho, tipo: "Qualé, vai amarelar agora?". I'm a loser mesmo, não sei nem me drogar.

Bom, como não queria ficar com esse troço aberto o tempo todo, liguei o foda-se e soquei um "start" na coisa. E lá se foram mais 25 minutos (dose cavalar) de "be-bops" e "shhhhhhhhhhhhhhhhhhhh" contínuos. Nesse, haviam batidas que iam desacelerando, ao contrário do anterior. Os ruídos me pareciam mais malucos ainda, cheios de efeitos. Haviam ruídos que me faziam olhar pro lado, por parecer que a presença de algo ou alguém estava ali. Entretanto, era só efeito.

Findado os 25 minutos, eu quis realmente dormir, de tédio e de frustração. Aquele tempo todo ouvindo aquela baboseira pra chegar a conclusão de que não funcionava. Ou pelo menos comigo não funcionou. Talvez, se eu tivesse deitado no sofá e tentado relaxar. Mas dae, era só colocar uma música monótona que eu dormiria mesmo!!

Conclusão:

Existe muito ainda o que pesquisar neste ramo. Acho que respondemos a estímulos que nem mesmo fazemos idéia de que existem. Acho que pode vingar algumas sensações interessantes desse esquema. Tem outra, eu não experimentei Marihuana e Cocaine ainda no I-Doser, até porque se é pra pagar pra fazer download de um baseado, eu ando 2 quarteirões e consigo um baratinho com um camarada. Ainda quero experimentar... mas não vou pagar.

Achei interessante, porém, pouco provável de se tornar uma mania.