sábado, 12 de maio de 2007

Estava Eu... levando um peteleco.

Ele não era o único a estar ali, no meio da Praça Brasil, a se apoiar na ponta dos pés, para ver o que todos queriam ver. Iria perder essa oportunidade? Claro que não... Tudo mais poderia ficar para depois, e era perfeitamente justificável apertar o pause e matar a curiosidade, saciar a euforia de ver algo que não acontece todo dia por essas bandas. Ele e milhões, atentos a cada movimento, seguindo aquela atração ímpar que se desenvolvia ante seus olhos.

Nosso amigo seguia se esticando todo para enxergar o incomum quebrando a monotonia dos dias na Praça Brasil quando, do nada, sente uma pequena dor em sua orelha direita. Demora até tomar consciência, já que desfocar a atenção que se dava exclusiva ao espetáculo público não aconteceria de imediato. Deu de ombros. "Pode ter sido um mosquito", pensou o nosso amigo, que já voltava seu corpo e sua mente para a atração de milhões como ele.

Entretido, o nosso amigo já nem lembrava do que teria causado a dor na orelha direita quando sente algo, desta vez na orelha esquerda. Olha para trás, para os lados e desta vez consegue entender claramente: levara um peteleco na orelha, um peteleco bem dado, daqueles que dóem mesmo. Olhou nos rostos dos que o acompanhavam na multidão mas não achava expressão suspeita. A averiguação não durou mais que 10 segundos. E 10 segundos já era muito tempo perdido para o show na Praça Brasil que, afinal, teria ocorrido quando pela última vez? 10 anos atrás? Ora, nem Copa do Mundo demora tanto!

Já estava morto qualquer desejo de descobrir quem lhe dera os petelecos ante o brilho do espetáculo quando nosso amigo de órgãos auditivos vermelhos leva um tapão na orelha direita. Era o golpe definitivo. Amigo leitor, afirmo que essa doeu bastante! Com o ouvido captando um zumbido, resultado do tapa, ele imediatamente se vira para trás e não entende. Mas desta vez nem procura um sorriso ou olhar suspeito entre os que o acompanham. O centro da Praça Brasil continua com sua atração, e nada naquele momento poderia ser mais importante do que o homem vestido de branco.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Amigo leitor, afirmo que essa doeu bastante!"
Isso me lembrou Machado de Assis. Melhor, essa ironia sutil toda. Muito bom...
Bjs

Anônimo disse...

Ah! O GF foi pretensioso em achar que ficaria implícito mas não ficou: ele quis citar a outra grande notícia da semana, o tapa dos deputados na nossa orelha.

Pywa disse...

Cara... genial.
Ainda mais depois dessa explicação.

maricota disse...

perfeito. muito bem escrito.
parabó. parabó, bobó.