quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Compartilhando um sonho

Mãe 


Quando a adolescência chega é difícil se encontrar dentro de si. O exterior nunca agrada de maneira completa na fase adulta, o que dizer então da adolescência, aonde a crítica vem de dentro. Ela queria ser cantora. Fazia backing vocal para a banda da escola. Tinha ídolos e se espelhava neles com parca esperança de um dia ter coragem de encarar um público maior do que três ou quatro amigos. Tempo passou e a banda desmanchou. Não há compromisso com o tempo. Hoje aqui e amanhã não mais, as pessoas se distanciam por conseqüência do acaso. Frustrada com o destino resolveu que cantar não seria um futuro. A autocrítica fez o resto e sua voz calou, jurou ela, para todo o sempre. 



Filha 



 Aprende sempre tudo como deve ser. Adora quando lhe ensinam uma coisa nova, com cuidado que só uma mãe pode ter. No seu quarto as bonecas, os bichos de pelúcia, o seres imaginários e sua família ouvem o seu canto alegre de criança. Quer ser como a mãe. Quer poder encantar alguém com sua voz como a mãe faz. Sonha por diversas vezes com sereias embaladas com seu canto, saltitando nas ondas em um mar muito azul. Espera ansiosa pela noite. 



De pijamas e ursinho, deitada na cama espera pelo “boa noite” da mãe e dá sua cartada: 



 - Canta pra mim dormir mãe? 



Ao som de uma voz macia como nuvens, ela dorme tranquila sem saber que realiza mais a mãe do que seu próprio desejo.