domingo, 8 de julho de 2007

Estava eu... Sobre escrever e vomitar


Escrevo para vomitar. O ritual da escrita é o mesmo do vômito: começa com a ânsia, o desejo - isso é incômodo, é revoltante - ; aí vem o ensaio do vomitar, o rascunho do escrever; vai o deslanche – texto e vômito se materializam. Instantes depois, vem o nojo. Nojo de olhar aquilo tudo; nojo porque tu vai passar por aquilo de novo, nojo porque aqueles que assistiram às tuas linhas e aos teus restos, vão falar mal de ti no dia seguinte. Não me importo: o que eu sinto é alívio. Alívio de não ter me calado, de não ter engolido o que não digeri. Até pouco tempo, eu tinha vergonha de vomitar palavras: hoje eu quero lavar a tua vida com elas. Vomitar até a bile, como quem toma um porre de barriga vazia.
Escrever não é fácil, assim como vomitar. Precisa da vontade, precisa ter comido algo estragado antes. Por isso que na escola a gente sofre para fazer redação. Nem professor escreve, muitas vezes! A gente não é preparado, não lê. Só se vomita porque o corpo se preparou para aquele ritual. E para a escrita, estamos preparados? Por favor, dispenso as fórmulas “introdução, um argumento, entretanto, enfim”.
Quem escreve, expulsa a idéia. Quem vomita, expulsa a comida. Que elas doem, dizem os masoquistas que se fartam de porcarias e palavras.

3 comentários:

Anônimo disse...

Onde assino?
Bela e certeira metáfora.

E talvez metáfora nem seja...

Escrevamos.
Vomitemos.
Solucemos.
.

Sempre que der vontade, e no idioma desejado.

Pywa disse...

Assim!

Assim mesmo que se faz. As coisas saem e não voltam. Assim como engolir não é igual a digerir, ouvir e receber infomação não é igual compreender. Assim, temos na rajada de versos ou palavras ordenadas a confirmação da integridade do cérebro. Temos a certeza da mensagem passada, nem sempre bem recebida.

Se um dia eu conseguir fazer com que alguém comece a ler, pelo meu simples exemplo ou com o meu incentivo, eu considerarei a minha missão satisfeita. Só posso esperar que outros e outros venham.

Preciso de mais contato com os livros e os amigos, já estou começando a fazer comentários extensos.

Ana Mello escritora disse...

Pois Ana, eu escrevo sobre qualquer coisa, até sobre o cocô do cavalo do zorro. É escrever sobre merda ou uma merda de texto. Não tenho vergonha de publicar, mas quando alguém escolhe meu texto, ou elogia, aí sim me dá vergonha, porque eu sinto que poderia fazer melhor. É como se eu naquela hora fizesse uma medida de valor.
Gostei do blog!