sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Estava eu... pollockiando

Vê este espaço em branco isolado aqui no canto...
Vai sendo engolido, perdendo sua pureza no amarelo... E as outras cores vão tomando conta do resto da tela...

O fundo é mesmo um céu azul bem chavão: celeste, claro, muitas nuvens bem delineadas, quase infantilmente pintadas. Mas as nuvens não são tão brancas. Misturo com um pingo de preto. Só um pingo é o bastante.

O que está em cima é o que importa: o vermelho cuspido, o azul escuro derramado direto da lata, o preto manchando todos os cantos... Quase todos. Pincéis? Não.

Ora, não me venha com suas idéias pré-concebidas de como as coisas deveriam ser... Isso pode ser um monte de borrões incompreensíveis pra você mas pra mim faz sentido.

É como eu faço.

Olhe essa outra tela. Sim: tinta preta em todos os cantos. Todos.
Como não faz sentido? Passe a mão por sobre a tela. São diferentes tipos de tinta, pois sinta, formando um relevo, um relevo do que está por trás disto, o que ficou encoberto, o que não importa mais, o que foi esquecido por algum momento e assim ficou.

É como eu sei fazer.

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5 comentários:

Pywa disse...

Mesmo sem "saber fazer" (termo absurdo para a literatura e arte em geral), um tal de Franz Kafka começou um dia a divagar sobre a sua impressão do mundo em que vivia.

Um dia escreveu à um amigo "acho que descobri uma maneira na qual se pode dizer todas as coisas".

O exercício do gênio nos traz a tona uma infinidade de talentos desconhecidos, revelando à nos mesmos nos pequenos detalhes de cada obra.

Nas ranhuras e relevos eu uso o meu tato, para dizer que não me surpreende ler coisas tão certeiras vindo de mente tão evoluída como a tua.

Espero poder te ler e conversar sempre.

Ana Paula Cecato disse...

Acompanhei as palavras, as imagens.

Me lembrou Lispector, que me pega pela mão e diz "Ana, te surpreende com o cego; tu és mais frágil que os ovos da sacola..."

Gosto de todos, mas acho que esse foi um dos top 10.

Beijoss

Arlise disse...

Cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, Cores...

Ler teu belo texto me deu uma incrível vontade colocar minhas mãos num balde de tinta e fazer arte (em todos os sentidos desta palavra).


Bj

Ana Paula Cecato disse...

Pollock, expressionismo abstrato!
Eurekas!

Tive que pesquisar quem era o cara que inspirara tal formosura textual...

bj!

Anônimo disse...

Isso! :)
Nunca tinha ouvido falar de Pollock até ver um filme homônimo na véspera do feriado. Muito bom...
Ed Harris dando show, como sempre. Recomendo: http://www.imdb.com/title/tt0183659/

E tem uma versão e "Esquadros" com a Adriana Calcanhoto e o Renato Russo bem legal!

Saudades, gurizada.
Abraços!