quarta-feira, 4 de abril de 2012

...lendo a lenda

Então você gosta de arte?

Até gosto, mas não tenho dom! Minha última tentativa de entrar para o meio artístico foi quando desenhei uma árvore e rodei no exame psicotécnico da auto-escola. Acredite! Não fiz o risco do chão. Foi uma sorte eu não ter conseguido a habilitação: sofro de síncope reflexa.

O que é isso?

É a perda repentina da consciência, um desmaio, apagão, "tilte", o tico se desliga do teco por alguns minutos. Eu seria um grande risco no trânsito.

Mas vamos ao que interessa. O que eu devo fazer?

Primeira coisa: relaxa! Vamos tomar um café, andar pela casa, pelos quartos, pela varanda, pelo jardim... Depois você veste a roupa que se sente melhor, ou não veste nada. Com todo o respeito: eu prefiro assim. Acho mais natural. Como combinamos, tudo será do seu jeito.

Cores, sabores, filmes, trabalhos, tecnologias, tudo... desde que nasci, tudo foi do meu jeito. Sou imperativa demais. Por isso te contratei. Quero saber como sou vista por quem não me conhece, não por mais alguém que eu consiga manipular. [Silêncio] Vamos trabalhar, antes que eu fale alguma besteira e você já me ache divertida! Quer que eu tire a roupa mesmo? Se for para você não achar que eu sou o que eu visto, eu tiro!

Vou colocar uma música pra você relaxar! O que você prefere?

Vodca! Pra relaxar, vodca!

Falava de música! O que gosta de ouvir?

O que você quiser, hoje você que escolhe.

[E ao som do absoluto pop barroco, por parte dele e da vodca, sem gelo, por parte dela, se encontraram todo final de tarde, durante três semanas.

Só um acordo foi feito: a pintura só seria vista depois que a tinta estivesse seca.

Seis meses e 25 dias depois da última dose de vodca sem gelo bebida naquela sala, no horário marcado, a campainha do velho casarão não tocou.

Nem tocaria.

O estilo “futurista” do pintor nunca foi tão literal]



Observações:

1- Paul Steck não era futurista.

2-Ophelia não gostava de vodca.



2 comentários:

Pywa disse...

Sei que não escreve com frequência, mas quando escreve é sempre muito bom. Parabéns!

Ana Paula Cecato disse...

I <3 os textos da Lise! O texto dela tem swing!