domingo, 8 de abril de 2012

Estava eu... na terceira pessoa

Tinha dez anos quando as dores começaram. Sentia uma neblina em seus olhos diante daquele mundo de estranhezas. Refugiava-se apoiando as mãos nos olhos fechados, era quando enxergava os labirintos e mais nada, assim ficava por horas.

Sua mãe a levou ao médico e disseram que a menina precisava de óculos, chamaram sua neblina de astigmatismo (gostara de palavras novas e esquisitas, inclusive daquela). O tempo passou, e ela sentiu que a neblina não passava – pior, ela tomava conta de seu corpo. Suas pernas suas mãos seu peito sua garganta – um desespero que explodia em noites de lágrimas insones.

A menina cresceu mais um pouco e levava consigo as dores e a neblina. Certo dia, no colégio, caiu-lhe nas mãos uma água viva que fez queimar seu corpo por dentro. Era o sol de Clarice.

2 comentários:

Arlise disse...

Que lindo, Ana!!

Fui obrigada a ler um trecho de Água Viva agora.

Diego GF disse...

Bah! Muito legal! :)

As "imagens" do texto são ótimas!