segunda-feira, 9 de março de 2015

...perguntando se você me ama.

Me pegou  de surpresa a pergunta ébria e por isso despretensiosa. Fazia tempo que eu não pensava nisso e respondi como sempre respondo nessas situações.  – Porque sim, hora essa!
Pensando friamente, com tempo que o banho permite, a análise das segundas com o terapeuta...  e até as longas viagens de carro em silêncio... a resposta retornou à memória como algo à tempo esquecido.
Chegando a casa da recente sogra, ainda viva e tenaz naquela época, ela me pediu para esperar um pouco na cozinha. Naquela ocasião a Lulu não estava com o pai e como ainda era um namoro recente, não era ocasião de apresentar a filha ao namorado.
- vou fazer ela dormir e já volto.
Aguardando na cozinha, a comida chinesa esfriava nas caixinhas enquanto eu ouvia uma suave melodia no quarto ao lado... o quarto que sobrou do casamento com tudo dentro, até mesmo a prole. A melodia, invadida por uma voz de sereia, era contínua e mantinha uma ternura... um embalo inconfundível de canção de ninar.
A mesma voz, por vezes sensual ao telefone, outras debochada na risada estridente e escandalosa. Uma outra face da mesma pessoa, escondida das noites de festa e os lábios de paixão, agora acariciava meus ouvidos com uma música que embalava sonhos de uma criança que eu não conhecia ainda.

Poucos anos depois, a mesma melodia e a mesma voz embalavam o sono da minha filha... e por consequência o meu sono também.

Esse é apenas um dos motivos esquecidos do meu amor. E eu, porque você me ama?

Nenhum comentário: